Mercado

Exportadores antecipam a venda de dólar e ajudam a baixar cotação

O fechamento de contratos de câmbio pelos exportadores aumentou fortemente nos últimos meses. Segundo números mais recentes do Banco Central (BC), atingiu US$ 7,649 bilhões em dezembro, acima dos US$ 6,748 bilhões de exportações efetivamente embarcadas. A média diária ficou em US$ 348 milhões, a maior desde o começo do Plano Real e 58% acima que os US$ 220 milhões de dezembro de 2002. Segundo analistas, a expectativa de estabilidade ou valorização do câmbio e o crescimento das vendas no exterior incentivam a oferta maior de dólares pelos exportadores, que se sentem confortáveis em trocá-los por reais. Esse movimento tem sido fundamental para explicar a trajetória de queda livre do dólar. No ano passado, o saldo do câmbio contratado (a diferença entre o fechamento de contratos de exportação e importação) ficou em US$ 28,355 bilhões, muito acima dos US$ 20,7 bilhões de captações privadas no exterior. O saldo da balança (diferença de embarques e desembarques de mercadorias) ficou em US$ 24,831 bilhões.

A decisão BC de comprar dólares no mercado pode mudar um pouco esse cenário, porque sugere a possibilidade de depreciação do real. No entanto, ponderam alguns analistas, o fato de a moeda ter continuado em baixa na semana passada mesmo depois das intervenções do BC deve levar os exportadores a continuar antecipando o fechamento do câmbio. Na sexta-feira, o dólar fechou em R$ 2,833, em baixa de 1,6% na semana.

O analista Antônio Madeira, da MCM Consultores, vê o aumento da média diária da contratação de exportações como mais um sinal de confiança no país. “Isso mostra que as empresas estão se sentindo seguras em trocar seus dólares por reais.” No quarto trimestre de 2002, quando ainda havia muitas incertezas em relação ao governo Lula, a média diária oscilou entre US$ 220 milhões e US$ 240 milhões.

Para o diretor-executivo da área internacional do Bradesco, José Guilherme Lembi de Faria, a perspectiva de estabilidade do câmbio faz com que muitos exportadores prefiram ficar com reais em mãos, para aproveitar os juros domésticos ainda elevados. Se não há uma expectativa de alta mais acentuada da moeda americana, é mais interessante fechar a contratação do câmbio do que retardar a venda de dólar, afirma ele. Além disso, o próprio crescimento das exportações explica o aumento da contratação do câmbio.

E como fica esse cenário daqui para frente? Faria acredita que a oferta de dólares no mercado pelos exportadores vai continuar elevada. O fluxo de recursos estrangeiros para o país segue intenso, tanto devido às emissões do setor privado quanto ao próprio saldo comercial, lembra ele. As compras do BC, nesse quadro, serviriam mais para impedir uma volatilidade maior das cotações do que para empurrar a moeda para cima.

Já o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, acredita que os exportadores podem adiar um pouco o fechamento do câmbio. A decisão do BC, diz ele, indica a perspectiva de alguma desvalorização. Mas o próprio Castro não acredita em altas muito fortes do dólar, porque isso poderia afetar a inflação.

E isso não interessa ao BC, que tem uma meta inflacionária de 5,5%, com tolerância de 2,5 pontos porcentuais, para cumprir em 2004. Com isso, fica difícil apostar num dólar acima de R$ 3,00.

Para Castro, os números de dezembro do câmbio contratado, além de influenciados pela expectativa de estabilidade do dólar e do aumento dos volumes exportados, também foram afetados por um outro fator: algumas empresas se financiam para pagar o 13º por meio de operações como Adiantamentos de Contratos de Câmbio (ACCs), que têm um custo mais baixo do que no mercado interno. De 1994, para cá, no entanto, o câmbio contratado de exportação em dezembro não costuma ficar acima da média registrada ao longo do ano, pelo contrário.

O economista-chefe do ABN Amro Bank, Mário Mesquita, é outro que não acredita em altas expressivas do dólar, mesmo depois das intervenções do BC. Emissões em penca do setor privado e o próprio fluxo comercial o fazem vislumbrar um câmbio comportado. Com isso, os exportadores não teriam motivos para segurar os dólares. Para Madeira, a atuação do BC deve impedir uma queda do dólar, mais do que qualquer outra coisa.

Nesse quadro, a média diária de US$ 348 milhões registrada em dezembro pode ser repetida. O que deve cair um pouco, como nota Faria, é o saldo, uma vez que as importações devem aumentar quando a economia começar a crescer com mais força. “Mas o superávit ainda deve ficar elevado em 2004”, diz ele, que espera um saldo de US$ 23 bilhões.