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Produção de petróleo não para de cair na Argentina

A Argentina caminha para registrar em 2013 o seu 12º ano seguido de retração na produção de petróleo, de acordo com dados oficiais compilados pelo Instituto Argentino de Petróleo e Gás (IAPG). Jorra cada vez menos petróleo na Argentina desde 2002. No primeiro quadrimestre deste ano a produção foi 4% menor em relação ao mesmo período no ano passado.

O esgotamento das reservas convencionais, a falta de investimentos na exploração de novos campos e as dificuldades da recém-estatizada YPF em fechar parcerias para começar a produção de óleo não convencional, de xisto, explicam o resultado.

Há uma semana, a YPF anunciou uma parceria com a americana Chevron, para explorar o campo de Vaca Muerta, na Patagônia. A presidente Cristina Kirchner alterou leis do país para viabilizar o investimento: dentro de cinco anos, os parceiros poderão exportar 20% de sua produção a preços internacionais, que são cerca de 50% superiores aos pagos no mercado doméstico. Mais importante: os exportadores não terão que remeter para o país a receita obtida, ficando livres dos efeitos do atraso cambial argentino. É um acordo visto com ceticismo pelo setor.

“Os investimentos não fluem para a Argentina, entre outros motivos porque as empresas perderam a liberdade de remeter lucros e dividendos ao exterior. Sem isso, como obter financiamento externo?”, comentou o ex-presidente da YPF entre 1987 e 1989, Daniel Montamat, que também foi secretário nacional de Energia no governo De la Rúa (1999-2001), que registrou o último ano de crescimento na produção de petróleo.

Alguns campos na Argentina são explorados há 35 anos, e a quantidade de poços de prospecção abertos por ano caiu de 100, nos anos 80, para apenas 40 em média na década passada.

Especialistas na Argentina divergem sobre se o problema do país é apenas político ou também geológico. O esgotamento de campos convencionais não é algo enfrentado só pela Argentina. Segundo levantamento do consultor Marcelo Martínez, ex-presidente da Tecpetrol, a petroleira do grupo Techint, na China a produção cresceu apenas 23,5% nos últimos dez anos, enquanto o consumo interno se multiplicou por sete. No mar do Norte, houve queda de produção de 5 milhões para 2,5 milhões de barris por dia em uma década.

É por essa razão que as atenções se voltam para os campos de petróleo e gás não convencionais, de xisto, dos quais se estima que a Argentina tenha a terceira maior reserva do mundo. Para desenvolver essa produção, não há divergências: o maior entrave é o baixo preço que o governo estipula para o gás natural no mercado interno, cerca de quatro vezes inferior ao preço considerado economicamente sustentável, que é de US$ 10 o milhão de BTU, unidade de medida adotada internacionalmente.

A escassez de gás na Argentina é ainda maior que a de petróleo e tornou-se mais visível depois que se expandiu o uso de veículos movidos a GNV (gás natural veicular) nos últimos anos. Nesta semana o gás voltou a ser racionado para todo o setor industrial, como costuma acontecer em todos os invernos argentinos: para garantir a calefação residencial, o governo determina o corte de suprimento para os grandes consumidores, entre eles usinas térmicas.

“O racionamento sempre existiu, mas antes ele não se dava pela escassez do produto: havia problemas de distribuição, já que a estrutura de transporte era deficitária”, comentou Montamat.

A falta de petróleo e gás tem impacto direto na balança comercial argentina: desde 2010 o setor é deficitário no mercado externo. No primeiro semestre deste ano, a Argentina gastou US$ 6,1 bilhões com a compra de gás natural, GNL e derivados de petróleo, um aumento de 23%. As exportações de petróleo pesado e derivados ficaram em US$ 2,4 bilhões, uma queda de 20,5%.