Com o valor do etanol mais vantajoso que o da gasolina para os consumidores nas bombas há pouco mais de um mês, a venda do biocombustível nos postos de Uberlândia aumentou uma média de 40%. A estimativa é da regional do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo do Estado de Minas Gerais (Minaspetro). Na prática, como exemplo citado pela entidade e apurado em reuniões dos sindicalizados, estabelecimentos que vendiam cerca de 400 litros de álcool ao dia estão comercializando mais de 500 litros agora.
O último levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostra que o preço do litro de etanol praticado na cidade tem a média de R$ 2,04 e o máximo de R$ 2,15 em alguns postos, enquanto o de gasolina tem a média de R$ 3,03 e o topo de R$ 3,07. Em ambos os casos, os valores do biocombustível representam menos ou até 70% do valor do derivado do petróleo, condição essencial para o primeiro ter custo-benefício real sobre o segundo.
E esse panorama favorável aos motoristas deve persistir até novembro, que é o mês em que termina a safra de cana-de-açúcar, já que não houve problemas para aquisição de mais combustível, segundo o vice-diretor local da Minaspetro, Marcelo Alcântara. “Só haverá mudança no preço do etanol se os usineiros cobrarem mais pela produção. Assim, os distribuidores repassam para nós [donos de postos], que, consequentemente, repassamos os custos ao consumidor final”, disse. Fora isso, ele lembra que também há a possibilidade de a gasolina voltar a ser competitiva, se houver desoneração governamental por causa da onda de protestos, que tem o tema como um dos motes, no país.
Por parte dos usineiros, conforme informou a assessoria de comunicação da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), não há indício de alteração em preços para este mês, pois as safras estão estáveis, sem problemas na plantação. Conforme a associação, além disso, a produção de quase 57 milhões de toneladas de cana tem maior parte (58,5%) reservada ao setor alcooleiro, o que não deve diminuir a oferta do produto ante a procura crescente em Uberlândia e no Triângulo Mineiro.
Greve poderá afetar os preços
Outro fato que pode influenciar no preço do etanol praticado em Uberlândia e no Triângulo Mineiro é a greve geral dos caminhoneiros iniciada esta semana. Isso porque, de acordo com Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom), há a preocupação de novos protestos prejudicarem o transporte, ou seja, a distribuição do biocombustível aos postos.
No início da semana, apesar do alerta, o presidente-executivo da Sindicom, Alísio Vaz, minimizou a circunstância e afirmou que não havia nenhuma situação de risco que afetasse os valores do frete por causa das manifestações.
Desoneração
Nem o governo federal nem o Estado de Minas Gerais apontaram medidas para desonerar o valor de combustível destinado ao consumidor final até o momento. Por causa das manifestações que tomaram conta do Brasil e que tinha como um dos motes a diminuição das tarifas do transporte coletivo nas cidades, o Executivo nacional somente indicou a aceitação da criação de um grupo de trabalho para estudar um meio de financiar combustíveis para o transporte público.
A ideia a ser discutida pelo grupo, que partiu da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), é a aplicação do tributo Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) no financiamento dos combustíveis necessários. Esse imposto foi zerado recentemente pelo próprio governo como forma paliativa de colaborar com a redução de tarifas.
Mudança pode alterar desempenho
Para aqueles consumidores que habitualmente utilizam gasolina e que, pela vantagem, começaram a usar álcool em seus veículos bicombustíveis, há a necessidade de se atentar para algumas mudanças no desempenho do automóvel. O motor flex com álcool, explica o guia “Quatro Rodas”, tem consumo superior e potência inferior do que se estivesse rodando com gasolina. Isso porque o poder calorífico do álcool é 25% a 30% menor que o da gasolina.
Ainda conforme o guia “Quatro Rodas”, os carros com motores flexíveis podem funcionar com qualquer um dos combustíveis ou suas misturas, independentemente da proporção ou frequência no abastecimento.
Fernando Boente
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