Os indicadores de desempenho da indústria surpreenderam favoravelmente ao longo do mês de abril e levaram economistas a calcular uma alta mais forte da atividade do setor no período. De acordo com a média das estimativas de 12 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data, a produção industrial avançou 0,9% entre março e abril, na série com ajuste sazonal, após alta de 0,7% no mês anterior.
O intervalo de estimativas para a Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM -PF) referente ao quarto mês do ano, que será divulgada hoje pelo IBGE, vai de 0,5% a 1,7%. Os analistas, no entanto, ainda veem os dados com cautela e afirmam que os indicadores de confiança do setor, por exemplo, não sugerem que esse ritmo irá se sustentar nos próximos meses.
Em relação a abril de 2012, 13 analistas consultados pelo Valor Data estimam, em média, aumento de 7,2% da produção. Se confirmado, este será o maior avanço nesta comparação desde fevereiro de 2011. Economistas, no entanto, atribuem esse salto principalmente à diferença do número de dias úteis entre os dois períodos. O quarto mês deste ano teve 22 dias úteis, ante 20 dias úteis em abril de 2012.
Rodrigo Nishida, economista da LCA Consultores, afirma que os indicadores divulgados ao longo de abril mostraram atividade mais intensa na indústria e o levaram a revisar sua projeção, que inicialmente era de queda da atividade no mês, para alta de 0,5% no período.
Para Nishida, a indústria ainda teve impulso importante do setor automotivo. A produção de veículos leves, por exemplo, avançou 3,1% na passagem mensal, de acordo com dados da Anfavea (entidade que reúne as montadoras instaladas no país) dessazonalizados pela consultoria. A fabricação de caminhões também contribuiu positivamente, com alta de 7,4% no mês, também na série com ajuste sazonal da consultoria.
Nos cálculos do Itaú Unibanco, a alta de 0,9% esperada para o levantamento do IBGE foi impulsionada principalmente pela alta da produção de bens de capital (2,4%) e de bens duráveis (0,7%).
No entanto, lembra Nishida, da LCA, a expedição de papel ondulado, termômetro importante das encomendas fora da cadeia automotiva, também teve avanço relevante no mês, de 1,1%, de acordo com os dados da associação do setor, com ajuste sazonal da LCA.
O economista ainda vê tendência positiva em outros segmentos da indústria. A boa safra de cana-de-açúcar deve impulsionar a produção de etanol. Outra surpresa pode vir do refino de petróleo. “A Petrobras tem feito um esforço grande para aumentar eficiência e utilização da capacidade nas refinarias e tem obtido seguidos recordes no refino de óleo”, diz Nishida.
André Muller, economista da Quest Investimentos, também avalia que a atividade na indústria manufatureira foi um pouco mais disseminada entre os setores em abril. A importação de bens intermediários, que servem de insumo para a indústria de transformação, subiu 5,2% entre março e abril, nas contas do economista. “A dúvida é se este movimento irá se consolidar”, comenta. Para ele, os dados de confiança dos empresários do ramo não apontam para recuperação consistente do setor.
Para Nishida, da LCA, a expectativa é que a volatilidade que marcou as variações mensais da produção industrial nas últimas leituras seja de alguma forma atenuada, principalmente porque o governo definiu manutenção da alíquota de 2% de IPI para carros populares até o fim do ano. No entanto, o economista não projeta repetição do ritmo de crescimento mostrado pela indústria em março e abril.
O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) da indústria brasileira, divulgado ontem pelo HSBC, cedeu pelo quarto mês consecutivo, de 50,8 pontos em abril para 50,4 pontos em maio. Já a confiança dos empresários, medida pela Fundação Getulio Vargas, subiu 0,8% no mesmo período. “São sinais mistos que não indicam retomada clara, apenas recuperação frágil da indústria”, afirma.