Mercado

Falta de política pública gera incertezas para o bicombustível

Nem tudo é festa no aniversário de 10 anos do carro flex. Será que o veículo bicombustível vai manter o seu predomínio no mercado brasileiro por muitos anos? Para o diretor do CBIE, Adriano Pires, o futuro do carro flex é incerto, caso o governo não adote uma política bem definida para o etanol, que realmente estimule a produção do hidratado. Se isto não acontecer – alerta – há o risco do etanol virar um aditivo como ocorre em outros países. “Torço para que o carro flex não tenha o mesmo destino do carro a álcool”, enfatiza.

Na avaliação de Adriano Pires, o carro flex teve dois momentos diferentes. “Foi um sucesso absoluto até 2009, porque havia uma competição mais sadia entre gasolina e etanol”, afirma. A partir disso, o etanol perdeu a competitividade, porque sentiu principalmente os efeitos do congelamento do preço da gasolina, decorrente das frequentes reduções da Contribuição de Intervenção no Domínio Público (Cide), além das consequências provocadas pela crise econômica e problemas de safra. “De 2009 pra cá, o carro flex virou, na prática, um carro a gasolina”, diz.

Segundo ele, o setor precisa contar com uma política pública muito forte, ter subsídio, política fiscal, tributo adequado. “Caso isto não ocorra, o produtor não vai plantar cana, não vai aumentar a produtividade. O setor está sem um marco regulatório definido. Por isso, não se constrói usina nova, o consumo de etanol despencou e o país perdeu a primeira posição para os Estados Unidos”, afirma.

“Não adianta medidas esporádicas”, observa Luiz Custódio Cotta Martins. De acordo com ele, o aumento da gasolina em janeiro e o anúncio da elevação do índice de anidro, de 20% a 25%, adicionado à gasolina, são iniciativas que têm a finalidade de atender a Petrobras. “Com o aumento da mistura vai haver uma redução de 30% na importação da gasolina”, revela. Essas medidas acabam – acrescenta – ajudando o setor. Mas, ainda é pouco.

“É necessário um programa a médio e longo que dê competitividade ao etanol frente a gasolina”, afirma. O presidente do Fórum Nacional Sucroenergético informa que o governo federal está elaborando um plano para o atendimento das demandas do setor. “Estamos acompanhando esse trabalho”, diz

Para Luiz Custódio, as diferenças de alíquotas de ICMS é outro fator que tem afetado a competitividade do etanol. “São Paulo sempre foi competitivo, porque o ICMS é 12%. Goiás é competitivo porque tem incentivo fiscal. Outros estados têm um ICMS maior. O preço que o produtor vende etanol em São Paulo é o mesmo que é vendido em Minas Gerais, onde o ICMS é 19%. A diferença de 7% é muita coisa. Em São Paulo o consumidor usa etanol no carro flex, em Minas Gerais não utiliza”, compara.