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Carro flex bate recorde e completa 10 anos em 2013

O lançamento do Gol Total Flex 1.6, da Volkswagen, em 24 de março de 2003, dava início a trajetória de sucesso do carro flex que está completando 10 anos no mercado. O veículo bicombustível ou flex fuel – como também é denominado – tornou-se um marco para o setor sucroenergético e para os fabricantes de veículos automotores. Deu um novo impulso para os negócios das unidades produtoras de etanol e açúcar, mudou paradigmas na indústria automobilística brasileira e criou o “reinado do consumidor”

A tecnologia flex já tem vendas acumuladas de 18,5 milhões de veículos no período de 2003 a 2012, o equivalente a aproximadamente metade da frota em circulação no país, informa o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes dos Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini.

O carro bicombustível teve nesse período uma escalada impressionante. “Com a participação de 4% nas vendas totais de veículos leves (automóveis e comerciais leves) em 2003 – ano de lançamento –, o carro flex foi gradativamente ganhando espaço entre os consumidores e superou, a partir de 2007, a casa dos 80% de participação mínima”, detalha o presidente da Anfavea. O índice obtido em 2012, de 87%, é recorde.

Em 2010, registrou 86% de participação e em 2011, 83%, que são consideradas oscilações normais de mercado. “A tendência do flex é de manter-se nessa faixa superior a 80%”, enfatiza. Avaliado como bastante expressivo, esse índice garante, em nome da diversidade, espaço para as demais modalidades (veículos a gasolina, veículos a diesel), comenta Belini, que é também presidente da Fiat no Brasil.

O sucesso do carro flex é atribuído, principalmente a uma virtude relevante: “Dar ao consumidor a liberdade de escolha do combustível, superando a anterior tecnologia veículo a gasolina X a etanol” – constata. Segundo ele, o flex possibilita que a escolha do combustível seja feita por critérios econômicos e ambientais.

O veículo bicombustível criou o reinado do consumidor, ressalta o economista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). “Em nenhum país do mundo o consumidor tem essa vantagem de parar num posto revendedor e escolher qual combustível ele quer usar no abastecimento de seu carro”, observa. Ele destaca que o flex também foi importante para dar novamente credibilidade ao etanol, acabando com o trauma do consumidor que ficou sem o produto para abastecer o seu veículo, no final dos anos 80, na época do carro a álcool.

O flex fuel desempenhou também papel relevante na retomada e expansão do setor sucroenergético no início dos anos 2000. “Na década de 80, tínhamos 94% de carros novos a etanol e em 2000 esse índice caiu para 1%. Com a queda do preço do petróleo, houve também a redução de incentivos para o carro a álcool”, relata Luiz Custódio Cotta Martins, presidente do Fórum Nacional Sucroenergético.

De acordo com ele, o carro a álcool tinha um IPI menor em relação ao que era cobrado do veículo a gasolina. “A indústria automobilística conseguiu que o governo considerasse o carro flex como veículo a álcool em relação à cobrança de IPI. Esse incentivo continua até hoje. Naquela época o etanol era competitivo. Houve um crescimento tremendo do setor, incluindo a necessidade de construção de novas usinas”, recorda.

“Nossa experiência de abastecer com etanol e rodar por todo o país é única no mundo”, afirma Cledorvino Belini. Ele lembra que alguns países contam com programas de mistura de etanol à gasolina, porém em níveis baixo. “Comitivas empresariais e governamentais vêm ao Brasil conhecer o programa de etanol, para comprovar in loco que é possível abastecer veículos com um combustível renovável, amigo do meio ambiente e alternativa viável aos combustíveis fósseis”, diz.

O presidente da Anfavea observa que certamente surgirão novas tecnologias para disputar espaço com o etanol, como a energia elétrica e as geradas a partir de célula de hidrogênio. “Mas isso é ainda futuro, do ponto de vista de vendas de massa, em razão de custos. Desse modo, ainda há muito tempo e espaço para o veículo flex”, avalia.