Brasil deve chegar ao fim da safra 2003/04 com exportações de 13,85 milhões de toneladas de açúcar, volume 6% superior ao verificado na safra 2002/03, de 13,098 milhões, de acordo com a mais recente estimativa da consultoria Datagro. Se confirmada, o Brasil registrará novo recorde nas vendas externas do produto sem que os preços internacionais tivessem recuado de forma expressiva.
Os atuais preços internacionais do açúcar estão acima do patamar entre US$ 0,045 e US$ 0,05 por libra/peso (correspondente a 0,45 kg) registrado nas safras 1999/00 e 2002/03, quando o Brasil também exportou volumes elevados de açúcar.
Capitalizado pelos bons resultados obtidos na safra anterior, o setor sucroalcooleiro consegue programar e controlar suas vendas, tanto no mercado externo como no interno, impedindo queda expressiva nas cotações. O fato de esta safra brasileira estar sendo mais alcooleira também contribui para a manutenção dos preços em níveis acima dos US$ 0,06. Segundo Plínio Nastari, consultor da Datagro, a atual safra destina 47,2% da produção de cana para o açúcar, ante 49,7% na safra passada.
Este maior planejamento nas vendas tem conseguido anular os efeitos até de uma demanda mais retraída, o que fez com que as exportações brasileiras fechassem sete meses de 2003 em patamar ligeiramente inferior aos resultados de 2002, em cerca de 125 mil toneladas, relativos ao açúcar branco. Para Nastari, esta defasagem deve ser eliminada a partir do primeiro trimestre de 2004. Segundo ele, países como Cuba e Austrália – que geralmente abastecem o mercado no início do ano – enfrentam problemas com a safra e não devem ter o volume suficiente de produto para atender à demanda.
“Este sentimento tem feito com que os usineiros estejam estocando mais açúcar que o normal”, informa. A idéia é atender esta demanda pontual em 2004 a preços melhores que os atuais.
Giovanna Araújo, analista da Datagro, informa que, até 16 de julho, os estoques de açúcar existentes na região Centro-Sul eram de 2,02 milhões de toneladas, volume 23,8% maior do que as 1,63 milhão de toneladas existentes em igual período da safra passada. Em números absolutos, a elevação foi de 390 mil toneladas, o que indica que, neste momento, a construção de estoques tem preferência sobre as exportações. Segundo estimativa da Datagro, no fim da safra 2003/04, o Brasil terá aumentado a produção de açúcar em 3,81% e a produção de álcool em 9,68%. As exportações de açúcar devem aumentar 6% e as de álcool, 24,8%, alavancadas pela expansão do papel do Brasil como fornecedor de álcool combustível.
O analista Plínio Nastari estima que as exportações de álcool saltem de 633 milhões de litros na safra 2002/03 para 790 milhões de litros em 2003/04. Mesmo assim, os estoques de passagem estão estimados em 484 milhões de litros. “Este estoque de passagem estimado não leva em conta o álcool produzido antes do início oficial da próxima safra, em 30 de abril, que pode chegar a 500 milhões de litros”, disse. No início desta safra, os estoques de álcool chegaram a 608 milhões de litros. Com base neste cenário, Nastari é categórico ao afirmar que não haverá desabastecimento de álcool combustível na entressafra.
Estoque – Os produtores também têm aumentado a estocagem de álcool. Mas o aumento é compatível com a safra mais alcooleira verificada neste ano. Os estoques de álcool total existentes na região Centro-Sul até 16 de julho de 2003 eram de 2,77 bilhões de litros, aumento de 32,4% em relação a igual período de 2002. Com a liberação prevista para este mês dos R$ 500 milhões para a estocagem de recursos do governo, o mercado acredita que estes estoques podem aumentar. Amaryllis Romano, analista da Tendências Consultoria, diz que assegurar o abastecimento interno e criar mecanismos de estocagem são pré-requisitos básicos para que possíveis contratos internacionais venham a ser firmados, particularmente em relação ao combustível, produto que ainda não tem tradição de comercialização no exterior.
A analista ressalta que as mudanças ocorridas no mercado internacional de açúcar desde a safra 1984/85 justifica a preocupação com as possibilidades hoje abertas para a diversificação na utilização da cana, uma vez que, neste período, o Brasil assumiu a liderança no ranking dos maiores produtores mundiais, antes exercida pelo conjunto dos produtores do Caribe, sob a liderança de Cuba. Ao longo desses anos, também se verificou alteração no tocante ao tipo de açúcar exportado, com expansão das vendas do produto refinado em detrimento do açúcar demerara, ou bruto (as exportações do refinado passaram de 6,6 milhões de toneladas para 18,1 milhões de toneladas), além do decréscimo na importância dos Estados Unidos e da União Européia no comércio internacional do produto.
“O cenário tem estado particularmente agitado em razão da atualidade da implementação de medidas de incentivo ao uso do álcool – menos poluente – em vez da gasolina. Isso provocou, inclusive, programas específicos com outros países”, afirma Amaryllis. Segundo ela, de acordo com o Protocolo de Kyoto, essas nações, incapazes de promover a despoluição em seus territórios, optam por financiar a frota de veículos movidos a álcool no Brasil, onde já existe a tecnologia e matéria-prima abundante para a produção deste combustível.