Mercado

Oferta de cana pode cair em até 10%

Queda dos preços e o alto volume de estoques podem levar os usineiros a atrasar colheita.

Representantes do setor sucroalcooleiro começam a alinhavar um acordo para reduzir a oferta de cana-de-açúcar na safra 2004/05 de maneira a ajustar o mercado, que se mantém superofertado devido à colheita de uma produção recorde este ano, estimada em 291,4 milhões de toneladas de cana na região Centro-Sul do Brasil. As idéias são inúmeras. Usineiros estudam alternativas que vão desde um programa de retenção da oferta, que implicaria a produção e estocagem de açúcar e álcool, até o atraso no início da colheita, com a intenção de deixar de colher entre 8% e 10% da área cultivada no próximo ano. “Neste caso, os planos são de iniciar a safra em 17 de maio. Essa é a maneira mais econômica de reduzir a oferta”, diz um importante usineiro.

A confirmação do acordo, entretanto, vai depender do comportamento dos preços. “Se houver tendência de queda nas cotações e excesso de oferta, o setor deve tomar alguma decisão para ajustar o mercado”, avalia Julio Maria Martins Borges, diretor da Job Consultoria. A decisão somente será tomada no início do próximo ano. Segundo o analista, o volume de chuvas registrado entre outubro e dezembro vai influenciar os rumos do mercado. “Se não chover, a redução da próxima safra será natural a exemplo do que ocorreu na safra 2000/01”, diz. Com o excesso de oferta registrado na safra de 1999 e o intenso período de seca verificado durante a primavera e o verão daquele ano, a safra 2000/01 foi reduzida em 20%.

Já o registro de chuvas consequentemente implicará a produção de uma safra em bom volume. “Com este cenário o mercado vai monitorar os preços para tomar qualquer decisão”, diz Borges. Segundo ele, os preços praticados atualmente no mercado interno estão em patamares razoáveis e remuneram a atividade.

A saca de açúcar é cotada entre R$ 21 e R$ 22, dentro das médias históricas para esta época do ano. Se comparados aos preços do início do ano, período de entressafra da cana-de-açúcar, os preços atuais são 52% mais baixos.

“Entre janeiro e abril deste ano, os preços do açúcar e do álcool alcançaram patamares recordes”, diz o analista. No período a saca de açúcar foi negociada a R$ 45, em comparação com os R$ 26 registrados em igual período de anos anteriores. Já a cotação do álcool chegou a R$ 1.150 por metro cúbico entre janeiro e abril, em comparação com os R$ 710 praticados na safra anterior. Atualmente o metro cúbico do álcool é negociado a R$ 670. “Os bons preços da entressafra refletem a situação de mercado ajustado”, diz.

Produção brasileira

Recentes estimativas da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica) projetam a safra de açúcar em 20 milhões de toneladas na região Centro-Sul do Brasil, um aumento de 5,6% sobre a safra passada, que somou 18,8 milhões de toneladas e de 4,7% sobre as projeções realizadas no mês de agosto. A produção de álcool está projetada em 12,3 bilhões de litros, um aumento de 9,8% sobre o desempenho da safra anterior e de 2,5% sobre as projeções do mês de agosto. A moagem de cana-de-açúcar deve atingir 291,4 milhões de toneladas, um volume recorde na história do setor.

O volume é 7,7% maior que a safra passada, também recorde, que somou 270,4 milhões de toneladas. Já a safra brasileira deve somar 343,7 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, um crescimento de 6,9% sobre a safra passada, quando o País colheu 321,6 milhões de toneladas. A produção de açúcar está projetada em 23 milhões de toneladas, um aumento de 6% sobre a produção do ano passado, enquanto a produção de álcool somará 13,9 bilhões de litros, volume 9,6% maior que o do ano passado.

Os estoques finais de açúcar estão projetados pela Unica em 790 mil toneladas este ano. Já os estoques finais de álcool devem somar 790 milhões de litros. “O mercado aposta em altos estoques de açúcar, mas acredito que até o início da safra boa parte será comercializada”, diz um usineiro.

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