Mercado

Brasil pode ser referência de preço para o álcool

A possibilidade de aumento expressivo na demanda de etanol nos próximos anos em todo o mundo coloca o Brasil diante da oportunidade de se tornar, pela primeira vez, a referência do preço internacional de uma commodity – o álcool. Como maior produtor mundial de commodities com peso econômico importante – como café, laranja e cana -, o País influencia fortemente na formação de seus preços, mas as negociações são regidas pelas cotações em bolsas do exterior. Com o álcool, no entanto, há condições de fazer com que o preço seja regulado pelas bolsas brasileiras, na opinião do diretor de Mercados Agrícolas da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), Félix Schouchana.

Segundo ele, os contratos de produtos primários são tão antigos no Exterior que o exportador nacional não teve outra opção a não ser se ajustar a um sistema de formação de preços consagrado no mercado internacional. No caso do álcool é diferente. O produto vem sendo negociado no mercado futuro na BM&F desde o ano 2000 mas ainda não é uma commodity internacional – o que pode mudar assim que a demanda começar a crescer significativamente, como prevê o setor sucroalcooleiro.

Para Schouchana, se confirmada a perspectiva de que o Brasil venha a liderar o mercado mundial, os exportadores brasileiros terão poder para exigir que as negociações tenham por parâmetro as cotações da bolsa paulista, o que contribuirá, em muito, para que o País se transforme no regulador dos preços internacionais. “Se a gente bobear, vamos perder a chance para outro país”, afirma. Também seria necessário, segundo Schouchana, um trabalho de fôlego para atrair investidores estrangeiros para a bolsa brasileira, oferecendo vantagens em relação aos pregões do Exterior. “Nosso grande desafio é competir com as bolsas grandes”, diz.

A BM&F vem registrando um volume diário de negócios equivalentes a 8 milhões de litros de álcool, em média, este ano – em 2002, a média foi de 7,5 milhões de litros. Anualmente, o montante de negócios corresponde a cerca de 25% da produção brasileira de álcool, segundo o diretor da BM&F. “O movimento aumenta a cada ano porque cada vez mais investidores passam a conhecer esse mercado”, diz Schouchana.

Uma peculiaridade nesse segmento do mercado futuro é que, além dos efeitos de safra e entressafra, existe a influência do comportamento dos preços da gasolina nas cotações. Em perídos de alta dos derivados de petróleo, a adição de etanol à gasolina aumenta, provocando valorização dos contratos.

Se o álcool tem um inestimável potencial de crescimento no mercado de commodities, o açúcar tem pouca margem de expansão. No mercado futuro da BM&F desde 1995, o açúcar cristal especial vem sendo negociado à média de 8,1 milhões de sacas por dia, entre janeiro e setembro. No ano passado inteiro, a média diária fechou em 11,3 milhões de sacas.

O açúcar, segundo Schouchana, ainda está buscando conquistar uma tradição semelhante à do café, em que já está institucionalizado um mercado de arbitragem, pelo qual o investidor opera simultaneamente em bolsas nacionais e estrangeiras, comprando o produto onde a cotação é menor para vendê-lo na bolsa em que o preço é mais alto. É esse, conforme o diretor da BM&F, o meio pelo qual o mercado pode crescer.

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