Com mais de 20 anos de experiência nas áreas financeira e administrativa de empresas atuantes nos setor sucroenergético, Pedro Mizutani, atual vice-presidente de Etanol, Açúcar e Bioenergia da Raízen, pontuou ações que precisam ser implementadas pelas usinas neste processo de retomada.
De acordo com Mizutani, a falta de políticas públicas não é o único agravante da atual crise do setor. Gestão profissional, investimentos e marketing são gargalos existentes nas unidades e grupos produtores, e que precisam da conscientização de seus gestores para alavancar o segmento.
Confira a entrevista exclusiva:
JornalCana: Atualmente, a falta de políticas públicas para o mercado de etanol é a principal reivindicação do setor para o governo. Mas, e as usinas têm feito sua “lição de casa”, e estão preparadas para uma retomada do setor?
Pedro Mizutani: É claro que falta política pública, mas o governo não vai resolver nosso problema sozinho. Os grandes grupos estão investindo em gestão e tecnologia. Mas, na minha visão, a segunda parte ainda é insuficiente. Só para ter uma ideia, pelo CTC – Centro de Tecnologia Canavieira – investimos R$ 80 milhões por ano, valor baixíssimo se comparado aos rendimentos que tivemos, já que moemos R$ 600 milhões. O total não representa nem R$ 0,30 por tonelada de cana que direcionamos para esta área.
Quais seriam as consequências deste processo?
Se não investirmos em tecnologia, não teremos canas mais produtivas e nem processos melhores. Estou falando no campo da pesquisa, não do que é investido dentro da usina. Essa tarefa não cabe apenas aos grandes grupos, mas sim, ao setor em geral, que precisa fazer sua parte.
Este seria o único gargalo por parte das unidades sucroenergéticas?
Não. Outro ponto importante é investir no marketing. Nós não sabemos vender nosso produto. Hoje, nosso único concorrente é a gasolina, ainda assim, não sabemos valorizar o etanol para o povo brasileiro. É preciso ressaltar os benefícios ecológicos embutidos no biocombustível, da geração de empregos de toda nossa cadeia produtiva, enfim; elencar as várias qualidades que nosso produto possui. A imagem do etanol precisa ser prioridade.
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Como as usinas podem fazer novos investimentos em um momento de crise financeira?
As pessoas não podem confundir despesa com investimento. Investimento você planta agora para colher no futuro, e infelizmente, os gestores não enxergam isso. A permanência das empresas se encontra neste ponto. Se o setor não investir, não sobreviverá. Por menor que seja a usina é preciso investir, é a tal da “lição de casa”.
Recentemente, o ministro Edison Lobão disse que os produtores de etanol têm à disposição uma linha de crédito de R$ 7 bilhões, que não é utilizada. O senhor tem essa informação?
Sim, nós a utilizamos, seja através do ProRenova, financiamento de máquinas e implementos, ou qualquer outro programa. O problema é que o cadastro das usinas não está zerado, o que tem dificultado o acesso ao crédito. É um processo cíclico. Como falta um cadastro adequado, elas não podem acessar as linhas do BNDES. É muito burocrático, infelizmente.