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Governo segura inflação e BC baliza Selic em 7,25%

Para quem tem dúvida sobre a manutenção da Selic em 7,25% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta-feira, governo e Banco Central (BC) já emitiram sinais reveladores. O governo está disposto a segurar a inflação no laço. O BC, a domar as expectativas nas apostas em dinheiro.

Para atenuar o aumento de preço dos combustíveis, o governo deve isentar o setor de etanol da alíquota de PIS e Cofins que incide sobre o combustível e, a partir de maio, aumentará a mistura de etanol na gasolina, de 20 para 25%. O governo estuda diferir o impacto que o custo da energia gerada pelas termelétricas terá nas tarifas do consumidor final. O BC já fez três movimentos importantes e tipicamente operacionais nos últimos dias. Dois desses movimentos ocorreram no mercado aberto ontem e indicaram mudança de perspectiva para a política monetária dentro do próprio BC – leitura que faz muita diferença na formação de expectativas no sistema financeiro.

Há uma semana, alarmes soaram num mercado já inquieto quando o BC realizou a já tradicional operação de venda de títulos federais de sua carteira, assumindo compromisso de recompra ao final de 90 dias. Essa operação “compromissada” tem volume máximo de R$ 20 bilhões. O BC raramente se dispõe a retirar de circulação essa quantia. Mas, no dia 25, aceitou as propostas das instituições e recolheu esse dinheirão pagando em troca juro de 7,34% ao ano e para liquidação financeira no fim de maio.

Esse resultado foi interpretado como sinalização de que o Copom poderia aumentar a Selic em 0,25 ponto percentual nesta reunião de março que tem início hoje e termina amanhã. A partir daí, várias operações passaram a embutir essa expectativa. Simultaneamente, cresceu a percepção de que o BC vinha emitindo sinais mais e mais confusos a respeito da política monetária. Lembrando que uma semana mais cedo, no dia 19, Alexandre Tombini, presidente da instituição, em discurso público, havia indicado que a Selic estava deixando a “manutenção suficientemente prolongada” para entrar numa fase de “oscilação”. Para o mercado que via (e ainda vê) a inflação resistente e subindo, a “oscilação” citada por Tombini teve um só sentido – também para cima.

Ontem, o BC reprisou a operação compromissada com prazo de 90 dias e com volume de R$ 20 bilhões. No entanto, ao contrário do que ocorreu no dia 25, retirou do mercado R$ 10,5 bilhões e pagou aos bancos 7,29% ao ano. O retrocesso da taxa mexeu com os operadores. Numa ação entendida como reforço de sinalização, a mesa de operações do BC, que normalmente recolhe pela manhã o excedente de moeda por apenas um dia, voltou ao mercado no meio da tarde e enxugou R$ 12,43 bilhões que, hoje cedo, retornarão aos bancos. Para “dormir” no BC, os recursos ganharam remuneração equivalente a 7,13%. A combinação dessas taxas foi entendida como Selic estável em 7,25% amanhã à noite, a despeito de mudança no comunicado do Copom.