Ao mesmo tempo em que o setor pleiteia junto ao governo apoio em forma de desoneração de impostos e em estímulos para aumentar a oferta a fim de conseguir colocar no mercado um etanol mais competitivo (veja matéria de capa na página 85), o Governo Federal, através do Secretário de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia, Marco Antonio Martins, responde que alguma desoneração pode ser boa para o setor, mas não acredita que vá gerar grande impacto porque o benefício total que se consegue com uma eventual desoneração tributária do PIS e da Cofins é pequeno e não agrega tanto.
A justificativa do Secretário tem sua razão de ser. Confiante, ele entrou até mesmo em um terreno que não é bem o seu ao afirmar que é preciso aumentar a produtividade das lavouras de cana e diminuir o custo de produção para promover a redução no preço do etanol. Sugeriu até mesmo um estudo mais aprofundado que resulte em aumento da eficiência energética dos automóveis brasileiros, cobrando da indústria automotiva a fabricação de veículos a etanol que percorram 16 quilômetros com um litro.
Indo além desse desgastante e infrutífero embate entre produtores e Governo, episódios como este estão servindo para reacender uma velha questão: este não seria um momento interessante para se discutir a adoção de um único padrão de etanol combustível para o mercado interno? Porque não levar apenas o anidro para as bombas? É um produto que equaciona esta questão da desoneração tributária, que resulta em eficiência energética maior e, embora tenha custo de produção maior, resulta também em quantidade maior de quilômetros rodados por litro. Dessa forma, poderia aumentar a competitividade do etanol com a gasolina.
Uma alternativa ainda mais radical foi proposta por Sergio T. Barreira: a de se adotar um combustível único no país, contendo 60% de gasolina e 40% de etanol anidro.
Em artigo publicado no Portal JornalCana, Barreira afirma que “parece não mais fazer sentido o Brasil trabalhar com 2 tipos de Etanol – Anidro e Hidratado – se um só tipo poderia colocar-nos novamente na vanguarda do uso e produção de combustíveis limpos, dar plena aplicação aos motores flexfuel, reduzir os custos logísticos, reverter imediatamente a posição de importador para exportador de etanol anidro, além de permitir ao Governo estabelecer o tão reclamado Marco Regulatório para os combustíveis do Ciclo Otto, dando segurança aos novos e atuais investimentos para o setor produtivo do Etanol no Brasil.”
Alguém poderia dizer que a anidrização é uma solução radical demais. Mas precisamos reconhecer que algo precisa ser feito, pois a anidrização do mercado de etanol já é uma realidade e uma tendência irreversível, levando-se em consideração o perfil fóssil-econômico do atual governo.
Então ao invés de deixar o Governo determinar uma anidrização predatória, porque não discutir de forma mais ampla este processo, visando atender aos diversos interesses do País, contemplando soluções tecnológicas, produtivas, logísticas, mercadológicas que venham a agregar benefícios para todos os envolvidos, especialmente os consumidores?