A criação de estímulos federais específicos para a química verde é uma “medida necessária” para tirar do papel a fábrica de polipropileno (PP) a partir de etanol planejada pela Braskem. O recado foi transmitido nesta quinta-feira pelo presidente da companhia, Carlos Fadigas, durante a inauguração da segunda linha de produção de butadieno no polo petroquímico de Triunfo (RS).
O executivo lembrou que a Braskem já opera uma planta de polietileno (PE) verde no polo gaúcho, que produz 200 mil toneladas por ano, mas ressaltou que “seguir em frente” na produção de petroquímicos a partir de fontes renováveis embute “riscos”. De acordo com ele, o pleito faz parte de um documento entregue em maio ao governo federal, elaborado pelo conselho de competitividade do setor químico constituído a partir do lançamento do programa Brasil Maior, em 2011.
As propostas do conselho incluem ainda a desoneração das matérias-primas usadas pelo setor e também dos investimentos em novas plantas industriais. Conforme Fadigas, um dos argumentos da indústria a favor de benefícios para novas unidades voltadas à produção de químicos verdes é que eles não causariam impactos negativos na arrecadação federal atual, porque incidiriam apenas sobre projetos futuros. “Criadas as condições, o projeto vai acontecer”, assegurou.
Segundo o vice-presidente de relações institucionais da empresa, Marcelo Lyra, a expectativa do setor é que o governo federal tome uma decisão sobre as propostas do conselho de competitividade ainda neste ano, para aplicação em 2013. “O documento já percorreu 80% do caminho”, comenta o executivo.
O plano inicial da Braskem era colocar a planta de PP verde em operação em 2013, mas Fadigas admitiu que mesmo que a decisão seja tomada agora esse prazo já não é mais alcançável. O projeto original é erguer uma fábrica com capacidade entre 30 mil e 50 mil toneladas por ano, provavelmente em Triunfo, com investimento superior a R$ 100 milhões. A Braskem também está negociando incentivos fiscais com o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro.
A planta de butadieno, matéria-prima para a produção de borrachas sintéticas, foi inaugurada hoje, mas está em operação desde junho. A unidade está operando a plena capacidade de 103 mil toneladas por ano, que estão sendo exportadas para Estados Unidos e México. A primeira linha de butadieno da empresa em Triunfo produz 106 mil toneladas por ano, das quais 50% a 60% são vendidos para a Lanxess, também no polo gaúcho.
A Braskem produz ainda 180 mil toneladas anuais da matéria-prima em Camaçari (BA) e 80 mil toneladas por ano em Capuava (SP). Conforme o vice-presidente de petroquímicos básicos da companhia, Rui Chammas, a expansão inaugurada hoje esgota a capacidade de produção de butadieno em Triunfo a partir das 1,3 milhão de toneladas de eteno produzidas localmente.
Chammas disse ainda que a demanda por butadieno está em alta nos Estados Unidos porque as petroquímicas locais estão substituindo a nafta pelo gás natural como insumo básico. O gás é mais barato e mais abundante nos EUA e é usado na produção de eteno e propeno, mas não é possível extrair dele aromáticos como o butadieno. Os preços do produto são voláteis e estão na faixa de US$ 1,8 mil a tonelada na América do Norte e US$ 2 mil na Ásia, depois de chegar a US$ 3,2 mil ao longo deste ano, mas a tendência é de valorização no longo prazo, disse o executivo. Mesmo assim, ele disse que a Braskem espera que, com a maior oferta da matéria-prima, outros fabricantes de borrachas sintéticas se instalem no Rio Grande do Sul.
Conforme Fadigas, a redução dos preços da energia elétrica, anunciada nesta semana pela presidente Dilma Rousseff, foi uma demonstração do “dinamismo” do governo federal no apoio à indústria brasileira, especialmente num cenário de crise econômica internacional. De acordo com ele, a redução de custos será “naturalmente” transmitida “via preço”, para toda a cadeia petroquímica.
O executivo explicou ainda que a Braskem estima uma redução de 15% nos gastos com energia elétrica no ano que vem. O insumo, junto com as demais fontes energéticas (gás natural, carvão, óleo combustível e co-geração a partir do craqueamento da nafta) representa, em média, 6% dos custos de operação da companhia, disse Fadigas.