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FAO pressiona Estados Unidos contra uso de milho no combustível

Devido à seca inclemente nos Estados Unidos, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) instou Washington a suspender imediatamente a produção de biocombustível a partir de milho. Falando ao Financial Times britânico, o secretário-geral da FAO, José Graziano da Silva, classificou de “prejuízo gigantesco” o processamento de cerca de 40% da safra nacional em forma de bioetanol. Diante da alta dos preços dos alimentos, a suspensão da produção de biocombustível nos EUA reduziria a pressão sobre o mercado, permitindo a utilização de mais milho como alimento e ração animal, propôs.

Graziano acrescentou que a situação do abastecimento de gêneros alimentícios já é “delicada”, podendo transformar-se rapidamente numa crise. Alguns países do grupo G-20, como França, Índia e China, já haviam expressado preocupação quanto à política do bioetanol.

Há anos essa fonte renovável de energia é criticada por ambientalistas. Eles argumentam que a utilização de terras aráveis para a produção de combustível reduz as áreas utilizáveis para a alimentação, impulsionando a alta de preços. Além disso, o cultivo para fins energéticos seria também responsável pela destruição das florestas naturais em amplas regiões do planeta.

Perigo global

A atual seca nos EUA é a pior das últimas cinco décadas. O famoso Corn Belt (cinturão do milho), no centro-oeste daquele país, onde se cultiva a maior parte do cereal, encontra-se no epicentro da seca. Desde junho passado as temperaturas estão elevadas e em julho alcançaram as maiores marcas desde 1895.

Segundo a Secretaria Norte-americana de Agricultura (USDA), apenas 23% dos pés de milho ainda estão em estado bom ou excelente. Desde o princípio de junho, o preço do produto já subiu 40%. O órgão governamental calcula que a safra deste ano será 13% inferior à de 2011, com o volume mais baixo dos últimos seis anos.

A colheita de soja, por sua vez, deverá reduzir-se em 12%. No total, este ano as colheitas de cereais daquele país cairão 13%, alcançando seu recorde negativo em 17 anos, estima a secretaria norte-americana. Tais expectativas fomentam temores de um encarecimento global dos alimentos.

Primeiros sinais

Em 2007 e 2008, a escalada acentuada dos preços do milho e trigo, entre outros, foram causa de fome e distúrbios sociais nos países pobres. Tendo em vista esses dados, a organização humanitária Oxfam adverte que a atual tendência poderá trazer consequências devastadoras para os mais carentes.

Dados divulgados pela FAO confirmam que uma espiral de preços já está em ação.