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Subproduto da cana valorizado

O bagaço e a palha da cana-de-açúcar, antes subprodutos deixados à mercê do tempo nas lavouras, estão ganhando cada vez mais espaço no país devido ao seu alto potencial energético. O Rio Grande do Sul engatinha neste processo e a produção de energia a partir destes dois itens só ocorre, até então, para abastecer as próprias indústrias que beneficiam a cana para produção de etanol ou outros derivados. No entanto, a expansão de plantações no Estado com esta finalidade deve aumentar nos próximos anos, inserindo a cana no modelo agrícola do Rio Grande do Sul, esperam pesquisadores. Hoje, o Estado, segundo dados da Emater, possui cerca de 37 mil hectares de canaviais plantados. Em apenas 12 mil hectares, a cana é encarada como fim comercial. O restante, segundo o engenheiro agrônomo da Emater Alencar Rugeri, está em áreas marginais das propriedades e não recebe qualquer tipo de cuidado, como adubação ou poda.

Entusiasta das plantações de cana para posterior produção de energia, Rugeri diz que o gaúcho está recém acordando para o potencial dessa cultura perene. “Ainda existe aquela mística de que a cana não é adaptável ao Estado, que não dá dinheiro e isso não é verdade. Temos variedades que, se bem cuidadas, podem alcançar alta produtividade por aqui”, comenta. A média da produção estadual é de 35 toneladas de cana por hectare. Mas, como há duas realidades bem distintas nas plantações, também há diferença na produtividade entre ambas. As lavouras comerciais chegam a render 50 t por hectare, enquanto as empregadas como alimentação, para os animais e produção de açúcar para consumo na propriedade, não passa de 20 t/ha.

Variedades que melhor se adaptem, que sejam mais produtivas e com mais potencialidade combustiva são alvo de pesquisa entre a tríade Embrapa, Emater e Fepagro. Rugeri explica que, logo após o primeiro ano de plantio, já é possível colher a cana, sendo que a planta tem uma escala de produtividade que chega ao seu ápice no quarto, quinto ano de produção, começando a baixar os índices produtivos a partir daí. Conforme a pesquisadora da área na Fepagro, Caren Cavichioli Lamb, o grupo está identificando e acompanhando o desenvolvimento de diversas variedades e pretende mostrar as melhores alternativas ao produtor. Rugeri acrescenta que a instalação de usinas está ligada à expansão de área plantada. “Tem que ter a matéria-prima para começar a produção. Cana não é um produto que valha a pena importar de outros estados: 1 tonelada resulta em apenas 80 litros de etanol”. Em São Luiz Gonzaga, a Norobios já plantou 200 hectares para produção de etanol, devendo entrar em operação até o ano que vem. O bagaço da cana será usado na produção de energia para o funcionamento da usina.