O preço do etanol em julho no Distrito Federal alcançou o maior valor para o mês dos últimos 10 anos. O fenômeno chama a atenção por ser o período de pico da moagem da cana-de-açúcar, quando deveria ocorrer uma queda no valor cobrado devido à maior oferta do produto. O consumidor está pagando, em média, R$ 2,26 por litro nas bombas dos postos de combustíveis, o mesmo valor da entressafra.
Entre 2011 e 2012, o aumento foi de 10,2%, bem acima inflação acumulada no ano passado (6,5%). O que deixa o álcool pouco atrativo para os motoristas, uma vez que o rendimento é inferior ao da gasolina. O resultado é a pouca procura pelo combustível: de cada 10 carros que abastecem em um posto no DF, apenas um escolhe o etanol. Para compensar, os postos sobem a margem de lucro bruto (valor sem descontos) sobre o litro do biocombustível. Enquanto o da gasolina está em 16,3%, o do etanol fica em torno de 20,85%.
Atraso
Uma das justificativas para o alto preço do etanol no auge da safra seria o atraso da colheita deste ano, ocasionado pelas chuvas fora de época. Em todo o Brasil, segundo dados da União da Indústria da Cana de Açúcar (Unica), 28,5% da moagem está atrasada. Apenas em Mato Grosso, São Paulo e Goiás compensa abastecer com álcool. Mas, de acordo com o Sindicato da Indústria de Fabricação de Etanol do Estado de Goiás (Sifaeg), apenas 5% da produção goiana não está dentro do previsto. Como boa parte do etanol comercializado no DF vem do estado vizinho, o preço na bomba poderia ter caído.
Para Ricardo Menezes, diretor institucional e vice-presidente do Sindicato das Distribuidoras Regionais Brasileiras de Combustíveis (Brasilcom), a expectativa do setor é de que os valores do álcool comecem a ficar competitivos a partir de agora. “Como o início da safra foi postergada, a procura está maior do que a oferta porque os clientes contavam que teriam etanol nessa época. Agora, os estoques estão sendo refeitos e o preço deve cair”, afirma.
O presidente da Sifaeg, André Luiz Baptista Lins Rocha, acredita que, mesmo com queda do preço na usina, o DF continuará com preços mais elevados do que em Goiás. “O preço cobrado pelas usinas é o mesmo, independentemente se é vendido para o estado de Goiás ou para o DF. O que encontramos são barreiras na comercialização, como os impostos, o frete e as margens de lucro da distribuidora e dos postos”, explica.
Propaganda
Em Goiás, o etanol custa, em média, R$ 1,81, 24% menos que no DF. “O mercado do DF muito nos interessa, não só porque tem uma frota expressiva, mas também porque tem as embaixadas, o que seria uma ótima propaganda do nosso etanol”, complementa o presidente.
Enquanto o preço não diminui, o consumidor se mantém fiel à gasolina. A analista de ciência e tecnologia Vânia Moreira de Freitas, 32 anos, conta que não recorda a última vez que abasteceu com álcool no Distrito Federal. “Só abasteço com etanol quando vou para Goiás, aqui não dá.” Para a secretária Ana Lúcia Vieira, 32, dificilmente o etanol compensa no DF. “Não justifica ter um carro flex no DF. De vez em quando abasteço com etanol, mesmo não valendo a pena, porque é bom para o motor flex.”
Cálculo
Para calcular o ICMS, a Secretaria de Fazenda do Distrito Federal faz uma pesquisa dos preços de mercado e tira uma média.A partir desse valor, ela determina o imposto sobre 25%. Na pauta atual, o etanol está cotado a R$ 2,289, o que significa que R$ 0,57 do valor pago pelo consumidor vai para ICMS.