Mercado

O que afundou o etanol

Como é possível afundar um setor inteiro da economia em apenas três anos? O governo brasileiro fez, de uns tempos para cá, um esforço danado para destruir algo que vinha dando muito certo: a indústria de etanol. Até quatro anos atrás, o combustível feito da cana-de-açúcar parecia destinado a transformar a economia brasileira.

De olho em seu potencial, chegou ao Brasil gente muito pouco acostumada a perder dinheiro, como as multinacionais Shell, British Petroleum e Bunge e até os investidores Steve Case, fundador da empresa de internet AOL, e George Soros.

O ápice aconteceu em 2008, quando os investimentos em novas usinas chegaram a 10 bilhões de dólares — e o volume de etanol vendido superou o da gasolina. Parecia o início de um movimento, mas foi, na verdade, seu pico. Entre 2009 e 2012, o setor de etanol só deu más notícias.

A produção de cana caiu 18% em 2011. E não há nenhum grande projeto previsto para os próximos anos. De longe, o principal culpado pela crise do etanol é a política de preços de combustíveis do governo, que mantinha há nove anos o preço da gasolina estável. No fim de junho, parecia que, finalmente, Brasília acordaria para o drama causado pelo subsídio à gasolina.

Falou-se num aumento de cerca de 15% nos preços. Mas logo seria jogado um balde de gelo em quem estava animado com essa perspectiva. A Petrobras anunciou um reajuste de 7,83% no preço da gasolina. Na prática, abastecer com gasolina vai continuar a ser mais barato do que usar álcool nos próximos meses.

É um sinal de que 2012 deve ser tão difícil para usineiros brasileiros quanto os últimos três anos. Qual foi a receita para afundar um setor inteiro em apenas três anos? A seguir, a equação que deixa tão difícil a tarefa de ganhar dinheiro com etanol no Brasil.

Preços controlados

O maior inimigo dos usineiros é o mesmo que, há poucos anos, prometia ser seu maior aliado — o governo federal. No fim de 2008, a Petrobras começou a prospectar petróleo na camada do pré-sal. Foi a senha para o petróleo passar de vilão nacional a salvador da pátria.