Com preços incapazes de competir com os da gasolina, o etanol está cada vez mais fora dos planos dos consumidores gaúchos. A venda do combustível caiu 66% nos postos do Rio Grande do Sul de 2009 a 2011.
Para devolver ao menos parte da competitividade ao álcool, o governo federal estuda cortar dois tributos – PIS e Cofins – sobre o etanol, mas especialistas dizem que a medida será insuficiente. Desde 2009, quando milhares de carros flex (que rodam com gasolina ou álcool) chegaram às ruas devido aos estímulos do governo, a procura pelo combustível renovável vem caindo.
O motivo é o preço. Em três anos, o etanol só foi mais vantajoso do que a gasolina nas bombas gaúchas em cinco meses – a última vez foi em julho de 2010, conforme a Agência Nacional do Petróleo (ANP).
De lá para cá, o preço do etanol se situou acima de 70% do valor da gasolina, ponto de equilíbrio sugerido por especialistas para optar pelo álcool em decorrência da diferença de rendimento do combustível. Hoje, está em 88%, estima o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom).
– Enquanto o preço da gasolina não subiu para o consumidor nos últimos cinco anos, a produção do álcool foi se tornando mais cara, pelo custo da mão de obra e problemas da safra. Isso tem criado distorções entre os dois combustíveis no país – explica Amaryllis Romano, analista da Tendências Consultoria.
No Rio Grande do Sul, a distorção é mais evidente. Longe das regiões produtoras (Sudeste e Nordeste), o que encarece o frete, o Estado ainda cobra uma das maiores alíquotas de ICMS do país sobre o combustível, de 25% (em São Paulo e no Paraná, dois dos Estados onde o etanol é mais vantajoso do que a gasolina, as alíquotas são de 12% e 18%, respectivamente).
Sem PIS e Cofins, preço do litro diminuiria em R$ 0,12
Com ambiente de negócios desfavorável, o Rio Grande do Sul viu as vendas de etanol caírem o dobro da média brasileira entre 2009 e 2011, que foi de 34%, calcula o Sindicom.
– O mercado do Rio Grande do Sul é historicamente mais resistente ao etanol. Com o preço em alta, a situação piora – diz Alísio Vaz, presidente do Sindicom.
Negociações entre usineiros e o Ministério da Fazenda para cortar PIS e Cofins sobre o combustível estariam avançadas, conforme analistas, principalmente depois que o governo retirou a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) incidente sobre a gasolina e o diesel no fim de maio.
A medida, entretanto, não deverá tornar o etanol mais vantajoso do que a gasolina nas bombas gaúchas. Uma retirada do imposto reduziria o preço final em R$ 0,12 por litro, valor insuficiente para deixar o álcool economicamente interessante ante a gasolina no Estado – o etanol passaria a custar 83% em vez de 88% do valor da gasolina, calcula o Sindicom.
Consciência ambiental é um dos poucos argumentos a favor do uso do etanol em tempos de preços em alta. Desde que comprou um carro flex, há um ano, o empresário gaúcho Fabrício Geyer Ehlers, 27 anos, decidiu que aceitaria pagar mais para rodar com álcool.
– Além de ser uma postura ecológica, ajuda a gerar empregos no país – afirma Fabrício.