Estudo feito pela Universidade Tecnológica de Michigan comprovou que os biocombustíveis de aviação produzidos a partir do pinhão manso reduzem entre 65% e 80% as emissões de gases do efeito estufa, comparados ao querosene de aviação. A produção ainda não alcançou escala industrial, mas já chamou a atenção das grandes companhias aéreas. Em novembro de 2010, a TAM fez um voo experimental no Rio de Janeiro, com uma mistura de 50% de bioquerosene (querosene de aviação renovável), à base de pinhão manso. Foi o primeiro voo teste de biocombustíveis feito por uma aeronave comercial na América Latina.
Nos bastidores, um empreendedor de 29 anos, formado em economia, vibrou com os resultados. E não poderia ser diferente. Roberto Murat é um dos sócios da Bio Ventures Brasil, pequena empresa criada em 2007, em São Paulo, uma das principais estudiosas do pinhão manso no país. “A TAM se interessou pela pesquisa e se tornou um dos nossos principais parceiros no plantio e desenvolvimento da planta para produção em escala industrial”, diz Murat. “Eles até mantêm no centro de manutenção de São Carlos, interior de São Paulo, uma área cultivada com várias mudas em teste”. O pinhão manso é um arbusto com até quatro metros de altura, de flores pequenas, amarelo-esverdeadas, cujo fruto é uma cápsula com três sementes que abrigam as amêndoas brancas, tenras e ricas em óleo.
A empresa de apenas quatro funcionários e faturamento estimado de R$ 500 mil em 2012, plantou uma grande área de mudas híbridas de pinhão no Centro-Oeste, além de erguer uma indústria piloto, em Araçoiaba da Serra, que ficará pronta no final do ano, para a produção de biocombustíveis. Tudo, graças às parcerias firmadas com empresas nacionais e internacionais, além do Banco Interamericano de Desenvolvimento. A inovação, porém, nasceu da parceria com a Rio Pardo Bioenergia. “Conseguimos tirar a toxidade da torta resultante da extração do óleo de pinhão manso, viabilizando a transformação do resíduo em ração animal”, ressalta Murat.
Apenas 37% das empresas com receita anual de até R$ 1 milhão investem em pesquisa e desenvolvimento
A Bio Ventures Brasil é um exemplo de microempresa inovadora, em um universo que cresce a cada dia. Levantamento da Deloitte Consultoria revela que empresas com receita de até R$ 1 milhão investiram 37% do faturamento em pesquisa e desenvolvimento no biênio 2010/2011. Mas, ainda é pouco. “Não podemos afirmar que a inovação virou cultura entre os empreendedores. Estamos longe disso”, afirma Juliano Seabra, diretor de educação e pesquisa da Endeavor Brasil. “Isso não quer dizer, porém, que não existam bolsões inovadores”. Na opinião do consultor, é provável que as próximas gerações de empresas inovadoras nasçam em áreas onde o país apresenta demandas a serem solucionadas em ramos importantes como saúde, energia, agricultura, biotecnologia, saneamento e água. “São segmentos que revelam inúmeras oportunidades de resolução de problemas via inovação.”
Empreendedor em série, Carlos Eduardo Ferreira Bulla, 28 anos, estava em uma rodada de apresentação de projetos de start ups, quando viu um grupo transformar um lança-chamas em uma máquina que consegue injetar alto volume de ar na água, gastando pouca energia elétrica. “Propus a eles uma parceria e a quatro mãos aprimoramos a tecnologia para tratamento de efluentes e reúso da água”, diz Bulla. “Traduzimos na prática o nosso conceito de inovação, ou seja, de achar uma forma nova de fazer o que todo mundo faz, mas de maneira diferente e mais econômica”.
O desenvolvimento levou seis anos e, em 2009, a Rica Water, empresa aberta um ano antes, em São Paulo, começou os testes práticos no Rio Pinheiros. Ficou comprovado que a nova tecnologia gastava cinco vezes menos energia elétrica do que os outros sistemas de tratamento de efluentes. Em dois anos, a Rica Water comercializou 66 máquinas, colocadas em oito clientes, nos segmentos de saneamento básico, frigorífico, óleo e têxtil.
Dos aeradores às estações compactas de tratamento de efluentes foi preciso muito pouco. “A partir da tecnologia da aeração, conseguimos criar uma estação compacta, montada em um contêiner, com área de 30 metros quadrados, capaz de tratar o esgoto doméstico produzido por 500 pessoas em um único dia”, afirma Bulla.
O preço médio da estação varia entre R$ 150 mil e R$ 170 mil. A primeira unidade foi vendida no início deste ano para uma unidade industrial, mas a meta é ganhar outros segmentos de mercado, como navios, áreas compactas que precisam de tratamento de água e municípios com verbas curtas para saneamento. Neste ano, a Rica Water deve faturar R$ 600 mil, mas a meta é alcançar R$ 4 milhões nos próximos dois anos, com a popularização da tecnologia.
Para Milton Da Vila, sócio da Deloitte Consultoria, embora as empresas de maior sucesso em mercados globalizados e competitivos sejam aquelas que criam uma cultura inovadora e evangelizam toda a equipe para fazer melhor e diferente, implantar essa mentalidade no dia a dia é um dos maiores desafios dos empreendedores. “É mais fácil criar uma nova organização ao redor de uma ideia inovadora, porque o empreendedor acredita nela e contagia os demais com o seu sonho, do que convencer as lideranças e as equipes já em atividade que inovar é preciso.”
A pesquisa da Deloitte deixou claro que os empreendedores falam seriamente sobre inovação, mas não adotam estratégias e processos para desenvolvê-la. “Inovação é um processo de longo prazo e a grande maioria está ocupada pelas pressões do imediato”, diz.
A opinião é compartilhada por Solange Machado, mestre em Inovação e coordenadora da área da HSM. “Enquanto o mundo não girava com tamanha velocidade, era possível fazer mais do mesmo. Hoje, o que determina a fidelização dos consumidores é o quanto a empresa agrega de valor a produtos e serviços”, afirma. Para Solange, o Brasil ainda está engatinhando na seara das inovações radicais. Ao contrário da Índia, por exemplo, que diante da necessidade, oferece novas formas de fazer, sobretudo na área médica.
Foi disposto a fazer diferente e a atuar em uma área nova e com pouca concorrência, que os engenheiros aeronáuticos formados pelo ITA, Bruno de Azevedo, 25 anos, e Leonardo Nogueira, 26, decidiram, ainda na faculdade, investir em uma empresa de veículos não tripulados. “No meio do quarto ano de faculdade, fui para a França estagiar e, na sequência, para um laboratório da Nasa, nos EUA”, diz Azevedo. “Foi aí que comecei a trabalhar com veículos mais leves do que o ar para exploração planetária”. Os balões e dirigíveis viraram tema do trabalho de conclusão de curso, tese de mestrado e garantiu à dupla o Prêmio Santander de Empreendedorismo. Mais do que isso, deu origem, em 2011, à Altave, especializada em desenvolvimento de veículos mais leves que o ar, com ênfase na geração de produtos e serviços inovadores com múltiplas aplicações.
A empresa, instalada na incubadora do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial-Incubaero, em São José dos Campos, São Paulo, atua, ainda, na área de marketing, embarcando sistemas eletrônicos de radiocomunicação nos balões, capazes de gerar interatividade com o público alvo.