Neste momento de crise, o setor sucroenergético precisa de uma ação conjunta entre o governo, empresários e da indústria de base, para a retomada dos investimentos. A opinião é de Antônio Carlos Christiano, presidente da Sermatec. “O governo deve criar medidas de incentivo à produção, ou seja, de 10 a 20 anos com regras claras e até mesmo retardar pagamentos de impostos para quando a empresa tiver gerando caixa, a fim de estimular os investimentos. Em contra partida, deve exigir em contrato o compromisso de entrega de etanol e energia e incentivar a indústria de base”.
O executivo explica que o ano está difícil para o setor e para a indústria de base fornecedora de equipamentos. “2012 está uma luta para sobreviver porque o setor não está comprando. Quando aparece uma oportunidade há muita concorrência e preço muito baixo”, lamenta.
Christiano conta que através de uma visão estratégica a Sermatec vislumbrou o cenário difícil desde 2009 e passou a dedicar-se também à exportação de seus produtos. “Entendemos que ainda não temos sucesso definitivo nesse novo negócio, mas no segundo semestre deste ano as vendas para o exterior devem ser equivalentes ou superiores às do mercado interno”, prevê.
A Sermatec exporta caldeiras, fábricas de açúcar, destilarias e sistema de limpeza de cana a seco, tendo como principal mercado os países da América Latina. Dos R$ 300 milhões de vendas gerais previstas para 2012, a empresa acredita que R$ 220 milhões serão para o setor nacional e R$ 80 milhões para o exterior, mas está revendo os valores do mercado externo, que poderão ser maiores.
Para Antônio Carlos Christiano, graças à crise, a empresa está com cerca de 1.000 funcionários, 50% menos do que poderia ter. “É um prejuízo inaceitável para o país. O governo deveria anunciar medidas para momentos de crise, à exemplo dos EUA, que criou um programa de incentivo de 10 anos e ultrapassou o Brasil na produção de etanol. É possível criar um programa virtuoso com medidas simples e eficazes”, sugere.
Comercialização de energia
Em relação às questões de comercialização de energia gerada pelo setor, Antônio Carlos Christiano entende que o governo deve estabelecer um plano de longo prazo que possa lançar um preço para a energia de biomassa, em vez de estipular seus valores através de leilões. “O governo precisa conversar com o setor e regulamentar um preço viável para o governo e motivador para o empresariado e desonerar a cadeia do etanol”.O presidente da Sermatec é contrário a renúncia fiscal, e explica que uma das soluções seria suspender o pagamento dos impostos na fase dos investimentos e retomá-los, quando o ativo estivesse gerando caixa, ou seja, produzindo. “Por exemplo, o empresário faz nova termelétrica que vai custar R$ 100 milhões. Desse valor, R$ 25 milhões vão para pagar impostos. Com a suspensão provisória, o empresário poderia começar a pagar este imposto um ano depois que a termelétrica entrasse em operação, e de forma parcelada em um prazo de cinco anos. O governo teria um atraso no fluxo de caixa e não uma renúncia fiscal. A indústria de base que fornece esse equipamento também deveria ter essa aplicação de imposto adiada. Desta forma, não pagaria imposto na compra de matérias-primas e equipamentos, facilitando o fornecimento. O governo pode criar essa regra para os próximos quatro anos, ou seja, no período de crise”, reivindica.
Outra sugestão do executivo é que o governo estabeleça um preço para a energia de biomassa entre R$ 130 a R$ 140 reais por MW e peça garantia de entrega de etanol. “Isto exigiria das indústrias que se beneficiassem desse incentivo a entrega do etanol hidratado nas quantidades necessárias ao país. Cada indústria, portanto, deveria fazer esse compromisso de entrega para ter direito ao benefício, caso contrário todo esse imposto venceria à vista. Seria um programa de mão dupla, em que o governo concede o benefício para a expansão da indústria e a mesma se compromete a fornecer energia elétrica e etanol hidratado em preço pré-estabelecido em contrato”, esclarece.
Novos empregos
Para Antônio Carlos Christiano, presidente da Sermatec, se o produtor industrial for beneficiado pelo governo, continuará contratando, e diminuirá as demissões, contribuindo com o país. Ele explica que a indústria de base gera emprego de alta renda para o país – na Sermatec, por exemplo, o salário médio chega a R$ 2.700,00. “Somos geradores de emprego de alta renda, então contribuímos para o desenvolvimento social do país, para distribuição da riqueza. Somos movimentadores de impostos”, lembra.
Christiano cita o programa governamental Reintegra, onde o exportador recebe de volta 3% das receitas das exportações, mas acredita que é pouco para a indústria, que movimenta altos valores de impostos no país. “Esse benefício deveria ser de 7% a 10%, ou o governo deveria devolver esse benefício como um documento de crédito, para quem estivesse em dia com os pagamentos de impostos. Com isso estimularia os investimentos, a geração de empregos e o governo teria uma regra de controle de pagamento de impostos que reduziria a inadimplência”, finaliza.