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Biocombustível inédito em três anos é meta da aérea Azul

Foram necessários US$ 500 milhões gastos em pesquisas por parte da multinacional de biotecnologia Amyris para a criação do combustível que daqui a alguns anos deve mover, mesmo que parcialmente, a frota da brasileira Azul Linhas Aéreas. Ontem, executivos de ambas as companhias e da Embraer apresentaram o resultado deste esforço, o AMJ-700, nome do querosene fabricado a partir da cana-de-açúcar – primeiro produto do tipo comercialmente viável já surgido no mundo. “Dentro de três anos, aproximadamente, já teremos as licenças necessárias para voar com este biocombustível. Mais importante, até lá teremos montado um modelo de negócios viável para tanto, com redes de abastecimento nos aeroportos. A ideia é que a partir de então os aviões da Azul passem a voar usando o produto, misturado ao querosene fóssil”, revela Gianfranco Beting, diretor de Marketing da Azul.

Fora as empresas citadas, também a General Electric (GE) fez parte do projeto, batizado de Azul+Verde. A iniciativa teve ainda o apoio do Banco Pine, da BR Aviation, da Total e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A Azul fez ontem um voo experimental utilizando este bioquerosene produzido à base de cana-de-açúcar – foi o primeiro voo de demonstração da companhia com este tipo de combustível. Um jato Embraer E195 com convidados partiu do Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP), com destino à cidade do Rio de Janeiro, onde no momento acontece a conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável Rio+20. A aeronave partiu com 4,5 mil litros de bioquerosene misturados com querosene de aviação comum – nada impede, no entanto, que apenas o querosene de cana-de-açúcar abasteça este tipo de aeronave no futuro. O biocombustível usado ontem pode reduzir em até 82% a emissão de dióxido de carbono em comparação com o querosene de origem fóssil.

Micro-organismos

Os grandes obstáculos ao uso de combustíveis renováveis na aviação geral sempre foram a menor potência dos mesmos frente ao querosene de aviação derivado do petróleo e a necessidade de mudanças na mecânica das aeronaves para que operem com o produto. O AMJ-700, segundo as empresas envolvidas no projeto, resolve ambas as questões. Adalberto Febeliano, diretor de Relações Institucionais da Azul, garante: “O rendimento do querosene de cana é o mesmo daquele gerado pelo querosene comum. Já fizemos testes e praticamente não foi constatada diferença alguma neste item entre ambos”. E o diretor de Desenvolvimento Tecnológico da Embraer, Jorge Ramos, completa: “Este biocombustível não implica nenhuma mudança na rotina das companhias aéreas. Os aviões podem voar com ele sem que haja a necessidade de adaptações”.

O bioquerosene é elaborado com micro-organismos geneticamente modificados para trabalharem como fábricas vivas de hidrocarboneto a partir da sintetização de moléculas de açúcar presentes na cana.

Segundo Paulo Diniz, dirigente da Amyris no Brasil, já está sendo erguida uma fábrica em Brotas, no interior de São Paulo, que fabricará o produto. A Azul, por seu turno, afirma não temer o impacto de eventuais quebras da safra de cana-de-açúcar no preço do bioquerosene: “Nós não vemos risco maior em relação à safra da cana. Os riscos no Oriente Médio são muito maiores. E ainda temos cartas na manga. A conversão da celulose é uma opção como matéria-prima para a produção do biocombustível”.

A concorrência, no entanto, parece estar atenta aos movimentos da Azul neste campo da sustentabilidade. Também ontem a Gol realizou seu primeiro voo utilizando um combustível renovável. Operado com um Boeing 737-800 Next Generation, o voo decolou do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, e pousou no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. O biocombustível utilizado pela aérea foi fabricado a partir de uma mistura de óleo de milho não comestível e proveniente da produção de etanol de milho mais óleos e gorduras residuais, misturado com querosene de aviação.

Infraero

E a Rio+20 parece mesmo estar ecoando no setor aéreo brasileiro. Também nesta terça-feira o presidente da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), Gustavo do Vale, divulgou o Relatório Ambiental 2011 da instituição, que contém todas as ações da empresa estatal voltadas ao meio ambiente.

Os investimentos da companhia nos últimos três anos na área ambiental chegaram a R$ 43,8 milhões. Apenas em 2011 foram destinados R$ 16 milhões para a promoção de estratégias ambientais por parte da Infraero. Até o final do presente ano a expectativa da estatal é superar este valor de 2011, atingindo um montante de R$ 31 milhões em ações voltadas à sustentabilidade.