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Fiesp projeta retração no emprego industrial no ano

A disparada do dólar e o movimento de redução dos juros não devem reverter a tempo o quadro negativo para o emprego na indústria de transformação paulista em 2012, de acordo com Walter Sacca, diretor-adjunto do Departamento de Pesquisas Econômicas da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “Agora temos um câmbio mais favorável, ainda que não seja o ideal. Temos também uma queda significativa dos juros, o que vinha sendo solicitado para devolver competitividade à indústria. Essas medidas, entretanto, levam seis meses para refletir na economia e na atividade industrial”, disse.

O nível de emprego da indústria de transformação paulista caiu 1,14% em abril, ante março, com ajuste sazonal. Na série sem ajuste sazonal, o emprego cresceu 0,55% em abril, ante março, com a contratação de 14 mil pessoas. Ambos os resultados foram os piores para o mês desde o início da série da entidade, em 2006.

Nos 12 meses acumulados em abril houve um crescimento de 0,16% no emprego industrial paulista, mas a previsão da Fiesp é que esse número fique negativo antes do fim do primeiro semestre. Para Sacca, as medidas de incentivo à produção industrial, anunciadas no início de abril pelo governo, começarão a surtir efeito entre outubro e dezembro, o que não será suficiente para reverter uma taxa negativa no emprego.

Segundo explicou, o dólar, que tem flutuado na casa de R$ 2,00, ainda tem espaço para se valorizar sem prejudicar o setor produtivo. Sacca avalia que diferentes setores da indústria de transformação apontam suas preferências para o câmbio na casa que vai de R$ 1,80 a R$ 2,40. “Quem acha que o câmbio de equilíbrio é de R$ 1,80 vai começar a reclamar que está difícil para importar insumos e quem prefere o câmbio a R$ 2,40 vai continuar achando que o dólar precisa se valorizar mais”, diz.

Sacca acredita que o câmbio de equilíbrio para a maior parte da indústria esteja entre R$ 2,10 e R$ 2,20. Por isso, a recente valorização do dólar é vista com bons olhos pela equipe econômica. “Acredito que o governo tem se empenhado para que o câmbio fique melhor. Entendo que o Mantega esteja satisfeito com o resultado, porque disse que o câmbio continuará flutuante. Se não estivesse satisfeito, não estaria tranquilo com o câmbio flutuante”.

Sacca comentou que o setor que vinha puxando o emprego na indústria paulista neste ano, o sucroalcooleiro, deve desacelerar a contratação. “A geração de vagas nesse setor vem diminuindo com a mecanização das lavouras de cana”, afirmou. “Com a redução das admissões nas usinas de açúcar e álcool e uma possível piora no nível de demissões nos outros setores, é muito provável que o emprego feche 2012 no negativo”.

Ele lembrou que desde 2009, num dos picos da crise financeira internacional, a indústria de transformação paulista nunca tinha acumulado quatro meses seguidos de queda no emprego na comparação desassonalizada com o mês anterior. Essas quedas foram se acentuando, em janeiro (-0,19%), fevereiro (-0,29%), março (-0,72%) e abril (-1,14%).