Margarita Louis-Dreyfus repete isso com frequência. Ela tem três objetivos para a Louis Dreyfus Commodities, a trading de produtos do agronegócio que ela controla: continuar o trabalho de seu finado marido Robert Louis-Dreyfus; concentrar-se no longo prazo; e manter a empresa com o nome da família.
A chegada de Margarita ao comando de uma das maiores tradings de commodities do mundo foi traumática. A morte de Robert em 2009 a colocou abruptamente sob os holofotes. Ela carecia não só de experiência em comércio exterior, mas também em negócios.
O começo hesitante foi marcado pela saída de Jacques Veyrat, o presidente anterior do conselho de administração, após diferenças em relação a estratégia, e por uma tentativa mal feita de fusão com a também trading agrícola Olam, de Cingapura. Mas agora ela parece estar firme no controle da multinacional francesa, na qual Margarita tem participação majoritária, através de uma fundação criada para ela e seus três filhos depois da morte de Robert.
A fundação, chamada Akira, detém 65% do capital da controladora da trading, a Louis Dreyfus Holding, com quatro membros da família com participações menores. Em troca, a controladora é dona de 80% da trading, com cerca de 500 executivos graduados e operadores de posse do restante do capital.
Os quatro membros da família têm, através de uma “put option” (opção de venda) de longa data, o direito de vender sua participação de volta para a Akira. Todos os anos, durante o verão [terceiro trimestre no Hemisfério Norte], eles podem oferecer para venda até 20% das ações da companhia.
A existência do acordo de opção de venda constantemente dá origem a rumores de uma oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) de ações. Mas Margarita diz que, após a venda da carteira imobiliária comercial e dos negócios de gás natural da holding nos EUA, em 2011, a Akira tem força financeira para comprar de volta a participação da família sem precisar seguir a Glencore e abrir o capital.
“Agora, nós [a Akira] podemos continuar recomprando as ações; podemos financiar isso”, diz ela. No ano passado, Margarita já aumentou a participação da Akira de 61% para 65%, depois que alguns membros da família venderam ações. E ela quer mais. “Esse é um processo orgânico (…) A Akira nunca dirá que não vai comprar mais ações. O fim lógico do processo é comprar todas as ações e controlar 100%”.
A empresária não quis revelar quanto a Akira pagou pelas ações. Executivos concorrentes avaliam a Louis Dreyfus Commodities em US$ 8 bilhões, com base em uma relação entre preço e lucro de 12, em linha com os valores de concorrentes como ADM, Bunge, Wilnar, Noble e Olam.
Além da trading, a holding controla uma distribuidora de energia e investimentos florestais, que poderiam acrescentar alguns bilhões de dólares a mais em seu valor. A estabilidade financeira recém-conquistada será muito importante, pois a trading pretende iniciar um agressivo programa de investimentos. Nos próximos cinco anos, ela planeja gastar US$ 7 bilhões na construção de ativos e compra de empresas, em comparação aos US$ 4,9 bilhões do período 2006-2011.
No passado, a companhia pôde bancar sua expansão via empréstimos de curto prazo e um fluxo livre de caixa. Esse foi o caso durante o crescimento acelerado das décadas de 1970 e 1980, quando começou a trabalhar com algodão, açúcar, cítricos e café, sob a liderança de Gérard Louis-Dreyfus.
No entanto, o novo esforço de investimento ocorre no momento em que os valores dos ativos estão muito mais altos. A Louis Dreyfus Commodities, assim como a maioria das tradings, está tentando se reinventar, avançando além de seu velho papel de simples intermediário – onde as vendas são grandes, mas os lucros muito pequenos. Em vez disso, está tentando investir em ativos mais lucrativos, mas que exigem muito capital, como produção, processamento e logística.
Em 2009, a Dreyfus comprou 65% da Santelisa Vale, uma das maiores produtoras de açúcar e etanol do Brasil, por US$ 460 milhões e um valor não revelado em endividamento. Ela fundiu a empresa com seu próprio negócio de cana-de-açúcar para criar a LDC-SV [divisão que está em processo de abertura de capital no Brasil]. Este mês, comprou a Imperial Sugar, refinaria de açúcar listada na Nasdaq, por US$ 203 milhões.
Agora, a companhia negocia para se tornar um dos principais investidores na abertura de capital da Felda, produtora de óleo de palma da Malásia cujo planejado IPO de US$ 3 bilhões, se confirmado, será o segundo maior do ano, atrás apenas do Facebook. Com o aumento dos investimentos, a Louis Dreyfus Commodities emitirá bônus pela primeira vez, mas Margarita insiste que não há planos de abertura de capital. A mudança para uma trading verticalmente integrada está dentro da visão de negócios de Margarita: “Meu trabalho é lembrar a todos para que pensem apenas no longo prazo”, afirma ela. (Tradução de Mario Zamarian)