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Na rota do desenvolvimento

Em meio à paisagem repleta de canaviais, na região de Piracicaba, mais precisamente em Capivari, cidade a 145 quilômetros de São Paulo, após a colheita da cana, máquinas fazem o plantio das sementes de dois híbridos de sorgo sacarino na Usina Bom Retiro. Em aproximadamente 120 dias, as plantas estão prontas para a colheita e de lá vão direto para usina, pertencente à Raízen, joint venture entre Shell e Cosan.

Na unidade, o sorgo é processado para a fabricação de etanol, ainda em fase de testes. “O sorgo permite uma escala rápida de produção, porque utiliza a mesma estrutura que a cana na produção do biocombustível”, diz William Burnquist, gerente geral da Ceres Sementes, a responsável pelo fornecimento das sementes para o cultivo dos mil hectares plantados na Bom Retiro.

Ele explica que como o plantio do sorgo é feito em períodos de entressafra da cana, maximiza a utilização de máquinas e aparato industrial. Com isso, a cultura pode se tornar um importante complemento ao biocombustível de cana, especialmente em um momento em que a produtividade nos canaviais vem registrando quedas constantes. Com a primeira colheita da pequena produção na Bom Retiro, a média variou entre 40 e 60 toneladas por hectare, um volume considerado razoável, mas abaixo da média dos canaviais.

“Ainda estamos em fase de testes para avaliar a viabilidade do sorgo. Ele deverá se tornar um importante complemento à safra de cana nos próximos anos”, explica Cássio Manin Paggiaro, diretor de produção agrícola de cana e sorgo da Raízen.

Pesquisa e tecnologia

O teste com o sorgo acontece em um momento em que a tradição canavieira de Piracicaba gera atração de novos investimentos. O município já abriga o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) e a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), referências em pesquisa e formação de profissionais para o campo. Nas próximas semanas deve ser inaugurado o Parque Tecnológico de Bioenergia da cidade.

Funcionando como uma espécie de incubadora, o local abrigará cerca de oito empresas voltadas para pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias para o setor, incluindo algumas companhias internacionais. “A ideia é que elas se fortaleçam ali, contando com a infraestrutura do parque e depois possam crescer, se instalar em outras áreas e gerar empregos para a região”, explica José Antonio de Godoy, secretário municipal do governo de Piracicaba.

Ele é um dos coordenadores do projeto do parque, que tem apoio do Arranjo Produtivo Local do Álcool (Apla Brasil) e explica que as empresas desenvolverão pesquisa sobre alternativas para a produção de biocombustível e novas resinas para tratar o caldo oriundo do processo. “Também teremos aqui um empresa que trabalhará com o desenvolvimento de novos produtos”, revela.

No prédio do parque serão instalados três laboratórios com equipamentos e estrutura que serão compartilhados pelas empresas. Além disso, Godoy conta que “uma das empresas já tem aprovação do BNDES para instalar uma planta piloto na área do parque e iniciar o trabalho de produção de biocombustível com matérias diversas, em fase de testes”. O CTC deverá instalar uma unidade dentro do parque e trabalhar em parceria com as empresas.

Integração e conhecimento

Como parte do projeto do Parque Tecnológico, uma unidade da Fatec já funciona na área desde 2008. Ali, anualmente são oferecidas 320 vagas para os cursos de Tecnologia em Biocombustíveis e Tecnologia em Gestão Empresarial. Não muito distante dali, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFSP) disponibiliza cursos técnicos de automação industrial, manutenção e suporte de informática e futuramente deverá contar com cursos de mecânica, profissões que complementam o setor agroindustrial.

A ideia é que o parque tecnológico seja um lugar de sinergia entre os elos da cadeia, que possa oferecer formação a jovens alunos, gerar conhecimento por meio de pesquisas e produtos que possam contribuir com o desenvolvimento do setor de bioenergia, com medidas mais eficazes tanto do ponto de vista econômico, como ambiental. “A expectativa é que a união de profissionais, tecnologias e pesquisa traga mais desenvolvimento e geração de empregos para a nossa região”, diz Godoy.

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