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Senador mais pró-Brasil nos EUA tem vaga ameaçada

A carreira de um dos principais simpatizantes de causas brasileiras no Congresso americano, o veterano senador Richard Lugar, corre o risco de chegar ao fim nas eleições prévias de hoje no Estado de Indiana. Ele caminha para ser a mais nova vítima da onda conservadora que ameaça os moderados do Partido Republicano.

Algumas pesquisas eleitorais dão uma vantagem de até dez pontos percentuais para o tesoureiro do governo de Indiana, Richard Mourdock, que é apoiado pelo movimento ultraconservador Tea Party. Mourdock, porém, teria menos chances que Lugar nas eleições gerais e pode atrapalhar os planos do partido de tomar o controle do Senado.

Lugar, de 80 anos, é chamado pelo adversário de “o senador favorito de Barack Obama”, por ter votado a favor de projetos apresentados pelo presidente americano, como o programa de estímulo fiscal à economia e o pacote de socorro às montadoras. Eleito seis vezes para o cargo, a primeira delas em 1976, ele é acusado em anúncios pagos pelo Tea Party de ser um político profissional que há décadas fechou sua casa em Indiana para morar nos arredores de Washington.

O senador não tem relações afetivas mais próximas com o Brasil, mas há confluência de interesses. Como um defensor do livre comércio, da melhora do ambiente de negócios e de mais austeridade fiscal, ele atuou para extinguir as barreiras ao etanol brasileiro nos EUA. Em 2011, mandou carta ao presidente Obama pedindo um acordo de bitributação entre os dois países. Num discurso recente, disse que os EUA deveriam elevar a sua relação com o Brasil a níveis similares a aliados como Canadá, Reino Unido e Austrália.

“Vai ser uma grande perda se ele deixar o Congresso”, afirma Celia Feldpausch, diretora-executiva da Coalização Brasileira da Indústria (BIC, na sigla em inglês), uma entidade que faz lobby para empresas brasileiras em Washington (a atividade é legal e regulamentada nos EUA). “Ele é experiente e tem simpatia pelo Brasil.”

Lugar é um dos últimos parlamentares que buscam consensos, num Congresso cada vez mais polarizado. Ele já presidiu a Comissão de Relação Exteriores do Senado, da qual é hoje o líder republicano, e é lembrado como um combativo opositor da ditadura de Ferdinando Marcos nas Filipinas e do regime do apartheid na África do Sul.

Caciques republicanos tradicionais declararam apoio a Lugar, incluindo o governador de Indiana, Mitch Daniels, que chegou a ser cotado para ser candidato contra Obama nas eleições presidenciais de novembro. Também estão reforçando seu caixa de campanha. O fantasma que assusta a todos eles é o risco de o oponente de Lugar, Mourdock, repetir a história da Tea Party Christine O’Donnel, que venceu as primárias em Delaware há dois anos e enterrou as chances de vitória do partido na eleições gerais no Estado.

Obama é ainda o favorito para as eleições presidenciais, mas os republicanos podem levar o Senado. Neste ano, haverá eleições para 31 das 100 vagas. Os democratas tem a maioria, com 53 cadeiras, contando dois independentes que se alinham com o partido. Mas estão mais vulnerável, pois 21 das cadeiras do partido estarão em disputa, ante apenas dez de republicanos.

Mourdock é apoiado pela ex-governadora do Alasca Sarah Palin e pela ex-candidata a presidente Michelle Bachmann, duas estrelas do Tea Party. Mas as perspectivas eleitorais de Mourdock não são tão ruins quanto as de O’Donnel. Ele já ocupa um cargo e tem mais experiência eleitoral e qualificações do que O’Donnel, que foi acusada de embelezar o currículo e de desviar dinheiro de campanha para gastos pessoais. Mesmo assim, sua eventual candidatura cria incerteza em torno de uma cadeira que, com Lugar, parecia garantida. O mais provável candidato democrata é o deputado moderado Joe Donnelly, que tem apelo mais forte entre os eleitores independentes.