Mercado

Marcha reduzida

O Paraná está tentando reanimar o setor sucroenergético, mas a seca ocorrida no final do ano passado e início de 2012, somada à paralisação de três usinas de cana-de-açúcar, trava o progresso do setor neste ano. Mesmo com a ampliação de 4% na área ocupada pelos canaviais, a previsão é de que a moagem da safra que está no campo (2012/13) alcance o mesmo volume do ano passado, 40,5 milhões de toneladas, conforme estimativa da Associação dos Produtores de Bioenergia do Paraná (Alcopar). O volume é 6% menor do que o processado no ciclo 2010/11, quando a indústria moeu cerca de 43 milhões de toneladas da matéria-prima do açúcar e etanol. Coloca o estado, que foi o segundo maior produtor nacional até 2008/09, n a quarta posição no ranking, atrás de São Paulo, Minas Gerais e Goiás.

O recuo projetado para atual temporada é associado à estiagem, que provocou quebra em toda a safra paranaense. Mas, não é de hoje que o setor vem tropeçando. A baixa taxa de renovação das plantações pressionou para baixo os rendimentos de cana-de-açúcar. Resultado: mais de 5 milhões de toneladas deixaram de ser produzidas no estado nos últimos três anos, conforme a Alcopar.

Impasse espalha o medo de demissão

A população de Moreira Salles, no Sudoeste do estado, vive um clima de apreensão e incertezas em relação ao futuro da atividade canavieira. Com a paralisação da moagem da Usina de Açúcar e Álcool Goioerê (Usinagre), boa parte dos trabalhadores teme ser demitida.

Paraná

Últimos investimentos industriais ocorreram há três anos

Os últimos investimentos industriais no setor sucroenergético realizados no Paraná ocorreram há três anos, conforme a Associação dos Produto res de Bioenergia do estado (Alcopar). Na época, duas usinas – Renuca, do Vale do Ivaí, e Decalda, de Jacarezinho – fizeram aporte de dinheiro para compra de equipamentos voltados à produção de açúcar. Como o ciclo da cana é de pelo menos 12 meses, uma delas iniciou suas operações somente no ano passado, a Decalpar.

Produção

Os números da produção paranaense da commodity refletem os investimentos. Na safra 2010/11, foram produzidas mais de 3 milhões de toneladas de açúcar no estado, contra 2,4 milhões de toneladas refinados no ano anterior. Enquanto isso, a produção de etanol hidratado vem caindo no estado. A marca de 2 bilhões de litros produzidos até 2007/08 não foi mais atingida. Hoje está em cerca de 1,4 bilhão de litros. Para aumentar a produção de álcool e aliviar a escassez do produto, são necessários novos investimentos.

“Não só paramos de crescer como reduzimos a produção em 15%. Para retomar o crescimento não adianta o governo ofertar dinheiro. O empre sário precisa acreditar que terá de volta o valor investido”, afirma José Adriano Dias, superintendente da Alcopar em referência aos altos custos de produção de etanol, oscilação de preços e frustrações climáticas, que tiraram a competitividade do etanol no mercado doméstico.

Paralisação

Como agravante, das 30 usinas instaladas no Paraná, três estão paralisadas, confirma a Alcopar. A Usina de Açúcar e Álcool Goioerê (Usinagre) foi a que encerrou atividades mais recentemente. Está parada desde janeiro (veja mais ao lado). Além dessa unidade, outras duas fecharam suas portas: Corol (Rolândia) e Casquel (Cambará).

As três plantas processaram 2,7 milhões de toneladas de cana no último ano de atividade. “Entre 50% e 60% dessa cana podem ser absorvidas por unidades vizinhas, mas a outra parte se perde com a não-renovação dos canaviais”, avalia Dias.

Além desse retrocesso, empregos deixaram de ser criados. “A cada 5 hectares plantados com cana, é criado um emprego. Poderíamos ter mais 7 mil vagas”, calcula.

Com custo de produção – R$ 1,15 para o hidratado – praticamente empatado com o valor de venda industrial – R$ 1,20 – o etanol é o produto que tem desequilibrado o mercado. O setor alega que não tem condições de competir com a indústria da gasolina.

Hoje o tributo para os dois combustíveis é praticamente o mesmo – 31% para o etanol e 35% para gasolina. O etanol de cana perde mercado, pois rende um 1/3 a menos. O produto já abasteceu 50% da frota de carros flex e hoje responde por 35%, conforme o setor.