A mistura de etanol à gasolina poderá voltar ao patamar de 25% a partir de 1º de maio, oito meses após o governo ter baixado o percentual obrigatório de adição para 20%, receoso de escassez e de novas pressões dos combustíveis sobre a inflação. Apesar de os ministérios envolvidos — Minas e Energia, Fazenda e Agricultura — não confirmarem, produtores nacionais de etanol reforçam essa aposta de mudança. Eles argumentam que o cenário é favorável, considerando a inflação em declínio, os estoques domésticos elevados e, sobretudo, a perda de US$ 10 bilhões da Petrobras com as crescentes importações recordes de gasolina.
“O governo reduziu o percentual com medo do agravamento da crise de abastecimento, mas hoje os volumes estocados já são o dobro de igual período de 2011”, comenta Luiz Eduardo Osório, vice-presidente da Raízen — empresa criada há um ano pela Cosan e Shell. Ele reconhece que o setor sucroalcooleiro ainda se recupera do baque da crise econômica mundial de 2008 e 2009, quando houve forte queda nos investimentos diretos na produção. “Mas já existe espaço com folga para ajustes”, disse. Sérgio Prado, porta-voz da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), endossa a opinião de Osório, de que o setor “tem condições de abastecer uma demanda maior”.
Apesar das justificativas apresentadas por empresários, técnicos do Ministério da Agricultura não concordam que as previsões de colheita e refino maiores da cana-de-açúcar neste ano e no próximo favoreçam a calibragem no percentual de mistura à gasolina, mesmo para um número intermediário de 22%, por exemplo. Eles alegam que a recuperação média de 5% nos volumes gerais p ode se perder com fenômenos climáticos no meio do caminho.
Profissionais envolvidos na negociação entre governo e usineiros revelam, contudo, que, além de mostrar capacidade para cobrir os 25%, a indústria estaria também forçando uma autorização federal para importar mais etanol. “É uma questão de política energética decidir entre empregar dinheiro do Tesouro na compra de gasolina importada, mais cara, ou permitir que o próprio setor energético ofereça ao mercado etanol importado a preços competitivos”, disse uma fonte. Ele informa que o fornecimento, sem riscos, da demanda interna pela produção nacional só deve ocorrer em 2021.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê que sejam processadas 602,2 milhões de toneladas da matéria-prima na atual safra (2012/13), 5,4% a mais que os 571,4 milhões da temporada anterior (2011/12), encerrada em 31 de março. A produção de açúcar deve crescer 5,34% e a de etanol, 4,81%, chegando a 24 bilhões de litros. O etanol anidro , usado na mistura com a gasolina deve avançar 7,44%, e o hidratado, usado nos carros flex, 3%.