Mercado

CTC terá mais recursos para pesquisas com cana-de-açúcar

O aumento de capital irrigará o plano estratégico do CTC, mas terá de ser multiplicado, diz Gustavo Leite. “O caminho será a busca de parcerias tecnológicas”

Liderado por um bloco de controle formado pelas gigantes Copersucar e Cosan, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), principal centro de pesquisa em cana-de-açúcar do mundo, aprovou ontem um aumento de capital de R$ 163 milhões para irrigar a expansão de um plano estratégico também chancelado pelos sócios. O foco é multiplicar os recursos por meio de parcerias tecnológicas e acelerar os ganhos de produtividade agrícola e industrial no segmento, que há uma década permanece praticamente estável.

Com custos de produção elevados e a iminente perda de competitividade para outros países produtores de etanol e açúcar, o segmento precisa urgentemente de um “salto tecnológico” no Brasil. Foi esse movimento que marcou a transformação do CTC de uma Oscip para uma sociedade anônima (S.A.), em janeiro de 2011. Outro passo no mesmo processo foi a contratação de um executivo para a presidência da empresa. Gustavo Leite assumiu a liderança do centro em outubro de 2011, após passar por indústrias de biotecnologia, química e farmacêutica. Entre 1998 e 2002, foi presidente da Monsanto no Brasil e exerceu a mesma função no escritório da multinacional no Canadá.

“O centro já desenvolve pesquisas nessas áreas e tem o maior banco de germoplasma de cana do mundo. Agora, precisamos procurar nos laboratórios de todo o mundo o que já se pesquisa em biotecnologia e enzimas para complementar o que já temos e acelerar nossos resultados”, diz Leite. “Não tem sentido começar do zero o desenvolvimento de alguma etapa de pesquisa, sendo que há outras empresas no mundo mais avançadas nesse mesmo tipo de conhecimento. É preciso ser bom em caçar tecnologia”, afirma.

Em termos globais, as pesquisas com cana não avançam porque a cultura tem uma área plantada pequena em comparação com as de milho ou soja, explica Pedro Mizutani, vice-presidente de açúcar e etanol da Raízen, joint venture entre Shell e Cosan – esta última com participação de 19% no CTC. “Por isso, não é tão interessante às multinacionais de pesquisa destinarem bilhões de dólares para desenvolver variedades transgênicas de cana-de-açúcar”, exemplifica.

Por isso, continua Mizutani, é o próprio segmento sucroalcooleiro que precisa buscar inovação. “A melhor tecnologia é a que ainda não existe”, completa.

Do aumento de capital de R$ 163 milhões, o setor pretende aplicar R$ 103 milhões no exercício 2012. Os R$ 60 milhões restantes representaram a oficialização de um outro aumento de capital, realizado em 2011. Os sócios terão 30 dias para subscrever as ações. A composição acionária do centro não deverá sofrer alterações.

Assim, o plano estratégico do “novo CTC” tem dois grandes blocos de demanda: lançamento de variedades (melhoria genética tradicional e biotecnologia) e etanol de segunda geração (celulósico). Sem mencionar seus alvos, Leite afirma que já estão sendo estabelecidas novas parcerias tecnológicas e aprimoradas algumas já existentes nessas áreas.

Neste momento, o CTC está em fase de contratação de recursos no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para construir uma usina de demonstração de etanol celulósico (fase pré-comercial). “Estamos conversando com outros parceiros produtores de enzimas”, adianta Gustavo Leite.

Com a expansão do cultivo de cana-de-açúcar para além das fronteiras do Estado de São Paulo, o CTC atuará também com mais ênfase na regionalização das tecnologias, diz Luís Roberto Pogetti, presidente do conselho de administração da Copersucar, principal acionista do centro de pesquisa, com participação de 25%. “Basicamente, usinas do Centro-Oeste estão usando variedades utilizadas em São Paulo. Isso explica, em parte, a menor produtividade que vem sendo registrada nos canaviais”, afirma Pogetti.

Na assembleia de ontem, os 154 acionistas do CTC aprovaram, também, a mudança na forma de uso das tecnologias desenvolvidas pelo centro. Com a mudança de Oscip para S.A., os associados passaram a sócios e, como todo o mercado, começarão, de imediato, a pagar pelo uso das tecnologias. Antes, explica Pogetti, eles tinham direito de usar gratuitamente os produtos e serviços, que eram fechados ao restante do mercado.

Pogetti afirma que ainda não há uma estimativa de receita neste primeiro ano de novo formato de comercialização do CTC. “Mas sabemos que haverá uma curva de aprendizagem”, antevê.

Em 40 anos de existência, o CTC desenvolveu e manteve em seu portfólio cerca de 100 tecnologias industriais e outras 100 agrícolas. Em 2011, como parte de seu plano de reestruturação, contratou a empresa de pesquisa Kleffmann Group justamente para filtrar nesse universo quais produtos e serviços tinham mais valor para o mercado. “O resultado é que mantivemos na prateleira 70% do portfólio”, diz Leite.

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