A saída do engenheiro agrônomo Marcos Sawaya Jank da presidência da União da Indústria da Cana-de-Açúcar nos próximos meses, anunciada ontem, 27 de março, foi precedida por um artigo de sua autoria publicado com exclusividade na edição 219 do JornalCana, que começou a circular na semana passada.
No artigo, Jank aborda os ajustes na entidade e faz como que uma prestação de contas, um balanço de sua gestão. Veja a seguir a íntegra do texto, intitulado Unica: novos tempos, novas atitudes:
UNICA: NOVOS TEMPOS, NOVAS ATITUDES
Experiência mostra que associações devem se adaptar a novas demandas e prioridades
MARCOS SAWAYA JANK*
Em Assembléia Anual realizada nodia 6 de março, os associados da Uniãoda Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica)aprovaram um pacote de revisõesestatutárias. Afinal, o quê há nessasmudanças para que alguns na mídia asdescrevessem como sinais de uma novafase na vida da entidade e do própriosetor?Os ajustes na Unica se inserem emum contexto, dando continuidade amá postura já diferenciada desde2000, quando a entidade adotou agestão totalmente profissionalizada. Aextensa agenda do setor, cobrindoalimentos, combustíveis, eletricidade,mudanças climáticas e relações comgovernos e fornecedores, tornavaimpossível o antigo rodízio de executivosde empresas do setor, dedicando apenasparte de seu tempo à entidade e enfrentando óbvios conflitos deinteresse. Atarefa usual de construirconsensos para contribuir com aregulamentação do setor, básica paraqualquer associação, foi complementadapor novas agendas: comunicação, áreainternacional, sustentabilidade,responsabilidade corporativa eprodução de estudos e estatísticas.No exterior, a Unica tomou em2007 a iniciativa inédita entreentidades setoriais de estabelecerescritórios em Washington e Bruxelas,para ampliar o mercado global doetanol. Participando intensamente doprocesso regulatório, com apoio decampanhas sucessivas de comunicação,a entidade teve papel fundamental naclassificação do etanol brasileiro pelosEUA como commodity energética eambiental avançada. O esforço foicoroado no final de 2011, com aabertura do mercado americano para oetanol brasileiro após três décadas.Em comunicação, só em 2011 portavozesda Unica concederam 1.400entrevistas e a entidade recebeu 180delegações de mais de 50 países. Emparceria com 18 entidades e empresasda cadeia sucroenergética, foi lançadoem 2009 o inovador Projeto Agora, paraacelerar a comunicação institucionaljunto a acadêmicos, jornalistas,governos e estudantes de nove estados.O projeto conquistou o Prêmio Aberje2011 como melhor iniciativa decomunicação corporativa do País.Na área da sustentabilidade, forampriorizados programas de adesãovoluntária que reconhecem as melhoresempresas, efetivamente nivelando porcima. Exemplo de sucesso é o ProtocoloAgroambiental de São Paulo, que estáeliminando a queima de cana muitoantes do previsto em lei. A experiêncialevou à criação do Projeto RenovAção,que já requalificou 5 mil ex-cortadoresde cana deslocados pela mecanizaçãoda colheita para novas profissões dentroda indústria. Paralelamente, foi criadoo Compromisso Nacional que reconhece,com a participação dos trabalhadores,empresas que adotam práticastrabalhistas exemplares.No plano global, a Unicaparticipou da criação de um dosprimeiros padrões de certificação para aindústria da cana, o Bonsucro, jáconcedido a 15 empresas brasileiras.Evidenciando o peso da agendasocioambiental, a mais desafiadorapara quem trabalha com bens intensivosem recursos naturais, mais de 70empresas do setor sucroenergético jáproduzem relatórios de sustentabilidadedentro do padrão GRI (Global ReportingInitiative), reconhecido mundialmente.Hoje, o setor sucroenergético seempenha para superar dificuldades queo impedem de ampliar sua produção nomesmo ritmo acelerado de crescimentoda demanda. Passados os sériosproblemas climáticos das últimas trêssafras e os impactos da crise global de2008, que direcionou investimentos paraa compra de empresas em dificuldades enão para a construção de novas usinas,o mundo da cana exibe novos e potentesparticipantes: conglomerados das áreasdo petróleo, agroindústria e químicacomo Shell, Petrobrás, BP, Odebrecht,Bunge e Dreyfus.As recentes mudanças estatutáriasna Unica têm relação direta com essanova realidade, em que os interesses dosassociados não são mais homogêneos edemandam grandes esforços decoordenação. Ao mesmo tempo, o setorenfrenta questões estruturais, como oconflito entre o forte aumento de custosdos últimos anos e o teto imposto aoetanol pelo preço da gasolina,“administrado” pelo governo epraticamente estável desde 2006. Achegada do ex-ministro eprincipal executivo da multinacionalBunge no Brasil, Pedro Parente, parapresidir o Conselho Deliberativo daUnica é um passo decisivo, tanto para aharmonização dos interesses de umsetor em transição quanto nainterlocução com o governo. A gestão100% profissional da Unica, que tenhoo privilégio de comandar desde 2007, semantém voltada principalmente para odesafio de crescer com competitividade.Consolida-se dessa forma a buscapermanente por melhoriasorganizacionais e institucionais, sempreenfrentando desafios que se renovam. Asúltimas mudanças, no setorsucroenergético e na Unica, sãoexemplos importantes nessa direção,válidos amplamente para entidadessetoriais brasileiras.
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*Marcos Sawaia Jank é presidente
da Unica – União da Indústria de
Cana-de-Açúcar