A cana-de-açúcar, procedendo da Nova Guiné, de ilha em ilha, através dos séculos, chegou à Índia uns dois mil anos antes da era cristã. Foram os gregos de Alexandre Magno que levaram para a Europa a notícia da existência de uma planta que dava mel sem abelhas. Porém, aos Árabes coube levar a cana-de-açúcar da Pérsia para as costas africanas do Mediterrâneo, sul da Sicília e sul da Espanha, donde os
portugueses levaram-na para a ilha da Madeira.
Em 1532, Martim Afonso de Souza, de parceira com o genovês Giusepe Adorno, fundou em São Vicente o engenho dos Erasmos, nome de seu financiador alemão.
Foi esse o primeiro engenho de açúcar do Brasil. Logo em seguida, Duarte Coelho fundou outro em Pernambuco que, devido à maior proximidade com a Europa e o clima mais favorável ao cultivo da cana-de-açúcar, suplantou São Vicente de muito. Mesmo assim, a cana-de-açúcar continuou a ser cultivada por engenhocas de pinga e de rapadura e a fazer parte das tradicionais lavouras da capitania bandeirante. Foi com a vinda do Morgado de Matheus, 1765, que de novo a cultura da cana-de-açúcar foi incentivada, agora na região conhecida por quadrilátero do açúcar: Campinas, Itu, Capivari, Piracicaba. Mais tarde, já no século 19, no Estado de São Paulo a
cana foi superada pelo café. Somente na segunda metade do século 20, começou a retomar o seu lugar preferencial na agricultura paulista.
Após 1960, passou a ser cultura dominante de Ribeirão Preto e, com
o advento do Proálcool, 1975, também desbancou Piracicaba de maior
produtora de açúcar do País. Além do álcool, foi na região de Ribeirão Preto que se iniciou a cogeração de eletricidade.
Hoje, outros produtos surgem na indústria sucroalcooleira, como ração para gado e peixe, fértil irrigação, fermento para pão, levedura
seca, ácido cítrico, plástico biodegradável e mais os provenientes da álcool-química, que vêm substituir os do petróleo.
Com a crise do petróleo, o mundo volta-se para a energia da biomassa, da qual, a cana-de-açúcar é a mais viá-vel.
O milho vem em segundo lugar, por ser uma planta largamente cultivada
nos países de clima temperado, impróprio à cana-de-açúcar. Todavia, exceto a cana e a beterraba, a todos os outros vegetais é necessária uma prévia sacarificação do caldo, para posterior produção de açúcar ou de álcool. Mas, somente a cana-de-açúcar produz a energia necessária para sua industrialização, alimentando as caldeiras com
o próprio bagaço. Além do mais, a cana-de-açúcar é o vegetal que produz maior massa orgânica por hectare, muito mais que a decantada floresta amazônica. Também a suplanta como seqüestradora do carbono
atmosférico. Planta conservacionista, evita a erosão provocada pela chuva, garantindo o futuro do solo e a sua fertilidade.
A tão criticada queimada da cana, com a mecanização, caminha para o fim. Na região de Ribeirão Preto, a colheita mecanizada alcança 50%, sendo que no município de Ribeirão Preto já ultrapassou 80%. A fabricação de colhedeiras, cerca de 150 unidades por ano, acrescida da
absorção da mão-de-obra rural, retarda a mecanização canavieira.
A mudança da paisagem é fatal, como aconteceu com a derrubada das matas para o plantio do café, algodão, milho, arroz e pastagens.
Podemos aplicar ao campo, as mesmas palavras usadas pelo renomado
urbanista, Paulo Mendes da Rocha, quando se referiu à realização das cidades: desse ancestral sonho dos homens de, juntos, construir seu
hábitat. Também, no campo, o homem sonha de, juntos, construir seu
hábitat.