Mercado

Lula diz que política não muda economia

Após café da manhã com investidores americanos ontem em Nova York, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou que a decisão do Banco Central de baixar a taxa de juros em 0,25 ponto percentual anteontem tivesse ocorrido por pressão do Executivo. Segundo ele, política e campanha eleitoral não se misturam com política econômica.

Com os empresários, Lula causou boa impressão ao se antecipar a questões sobre os escândalos de corrupção e explicou que os programas de governo e projetos de reforma não serão afetados.

“A economia não será mexida por conta de política e de campanha eleitoral. Nós tomamos a decisão de que o Brasil não pode jogar fora a oportunidade de se transformar num país de economia sólida. Se o presidente da República ou o ministro da Fazenda brincarem com a economia porque vai ter eleição, a gente vai jogar fora uma oportunidade, como tantas vezes foi jogada fora no Brasil”, disse Lula.

A declaração reflete uma preocupação de organismos de financiamento internacional de que governos manipulem a taxa básica de juros para promover surtos de crescimento de acordo com o ciclo eleitoral. No Brasil, mudança na taxa Selic é determinação do Copom (Comitê de Política Monetária) e leva em consideração a meta de inflação. Essa foi a primeira redução em 17 meses e ocorreu em meio à mais grave crise do governo e num momento de queda de popularidade de Lula.

Segundo Lula, a queda de juros, amplamente esperada pelo mercado, foi decisão independente dos “responsáveis pela política econômica”. “Chegou o momento. A economia está sólida, crescendo. Os empregos estão crescendo, e o PIB vai crescer”, justificou. Segundo ele, o momento marca o começo de “um novo ciclo de crescimento sustentável”.

O presidente não quis repercutir outros assuntos de política interna, só disse rapidamente que as investigações e a limpeza no Congresso Nacional “ajudam”.

Segundo os participantes do café no luxuoso hotel Waldorf Astoria, Lula estava relaxado e causou boa impressão ao tratar de forma “realista” os escândalos.

“Havia um clima de ansiedade e preocupação na sala, mas aumentou a confiança na força das instituições. Sabemos que no Brasil ninguém está interessado em ver o país descarrilar”, disse Thomas McLarty, presidente da consultoria Kissinger McLarty. Para William Rhodes, do conselho executivo do Citigroup, Lula fez um discurso “excelente”. “Queremos aumentar o investimento no Brasil”, disse, sem especificar em que ramo o banco pretende expandir.

Na sua fala, Lula destacou o programa de etanol do governo brasileiro e disse que o país também pretende investir em infra-estrutura energética na América do Sul. Lula disse, segundo um participante, que os EUA podem continuar plantando milho para comida, mas que o Brasil plantaria cana-de-açúcar para vender combustível, o que levantou risadas. Não se discutiu sobre propriedade intelectual nem quebra de patentes da indústria farmacêutica. Ele disse que a reforma trabalhista deverá ser retomada em 2006.

De acordo com o ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), o ciclo de valorização do câmbio está próximo de acabar, o que ajudará as exportações brasileiras. “O patamar de inflação está testado, mas não se pode assegurar que daqui a dois anos será a mesma”, disse, após o encontro.

Banner Revistas Mobile