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R$ 750 milhões já!

O setor sucroalcooleiro nacional apresenta um dos maiores índices de perdas de industrialização, só perdendo para o setor de construção civil, onde o desperdício de material e retrabalho ultrapassam a faixa dos 30%. Em outros países produtores de cana de açúcar, as perdas industriais são bem menores, já que há um entendimento que elas são os maiores contribuintes para a redução do lucro. Considerando?se os preços médios desta safra, uma redução de 1% nas perdas industriais, representa um aumento do lucro de aproximadamente R$ 900 mil em uma unidade processando 1,5 milhões de t de cana com 14% de sacarose. Temos conhecimento e tecnologia para reduzir, em curto prazo, as perdas médias nacionais em até cinco pontos percentuais, o que representaria uma economia nacional de mais R$ 750 milhões, em resumo, receber um “subsídio” de R$ 3 por tonelada de cana.

Em curto prazo, a redução das perdas industriais e a agregação de valor monetário aos produtos industrializados devem fazer parte do foco da alta administração, de forma a aumentar o lucro. Em médio prazo, vemos com muito otimismo a transformação de nossas indústrias em centrais termoelétricas, disponibilizando energia elétrica para comercialização através das concessionárias. Essa otimização passa necessariamente pelo aprimoramento dos processos de açúcar e álcool no tocante a consumo de vapor, que atualmente demandam muita energia térmica, principalmente devido aos desperdícios, equipamentos com projeto ultrapassado e falta de tecnologia adequada. Somente para exemplificar, o consumo médio de vapor de processo é 550 kg/t de cana, sendo perfeitamente possível reduzí?lo rapidamente para menos de 450 kg/t, representando uma economia expressiva de 18%. Com novas tecnologias e equipamentos apropriados será possível gerar 100 kW por tonelada de cana, seis a sete vezes mais do que é gerado na média atual. Os recursos para estes investimentos virão da própria empresa, capitalizada depois da redução das perdas e de investidores ávidos por oportunidades para substituir um produto cada vez mais caro e ao mesmo tempo cada vez mais raro devido aos impactos ambientais provocados por outras fontes energéticas.

Finalizando, vale lembrar que em tempos de preços não gravosos para os produtos finais há um certo relaxamento quanto aos “abusos e absurdos”, já que nessas condições alguns admitem que as perdas seriam compensadas pelo maior faturamento. Afinal, quando alguém acha que educação e treinamento custam caro, deveria atentar-se mais para o custo da ignorância.

Marcelo Paes Fernandes é engenheiro mecânico, engenheiro açucareiro e consultor da Fourteam – Engenheiros Associados. E-mail: [email protected]