Sua experiência profissional teve início no ano de 1948 na Usina Central Cuba, uma empresa que trabalhava com uma das mais altas eficiências da ilha, moendo na época 7.000 t/dia e mantendo uma recuperação de açúcar acima de 130 kg/t de cana. A recuperação da fabrica apresentava perdas totais de apenas 12 kg/ t de cana, incluindo as indeterminadas. A formação educacional de Gerardo
Fundora, também aconteceu em Cuba, na Universidade de La Havana, graduando-se em Engenharia Açucareira na Escola de Engenheiros Agrônomos e Químicos Açucareiros e complementando-os com pós-graduação na Universidade do Estado de Louisiana, Audubon Sugar School, com uma bolsa de estudo na Seagram Destillery em Louisville, Kentucky. Anos mais tarde freqüentou vários cursos especiais, dentre eles sobre refinação de açúcar no Cane Sugar Refiners Institute, da Nicholls State University, Thibodaux, Louisiana e também Estudos de Administração Industrial na Lasalle Extention University Chigago, Illinois. Hoje, preside a Sugar Processing Corporation, com sede na Flórida (EUA), e presta assistência técnica em aproximadamente 30 unidades industriais brasileiras, em diversos estados.
JornalCana – Qual a contribuição da Sugar Processing para a indústria açucareira brasileira? Gerardo
Fundora – Estamos no ramo de açúcar há mais de 50 anos, com atuação no Brasil, USA, México, Cuba e alguns países da América Central. No Brasil, temos contribuído com projetos de fábricas de açúcar como, por exemplo, a Usina Santa Olinda, no Mato-grosso do Sul, e também na Usina Iturama, em Minas Gerais. Ao longo dos últimos 30 anos modernizamos inúmeras estações de evaporação de caldo e cozimento de açúcar, implantando técnicas cada vez mais modernas de modo a permitir que essas usinas tenham um excelente produto com alta recuperação de sacarose e economia de vapor. Mais recentemente, temos orientado a instalação de refinarias de açúcar, como por exemplo, na Usina São José da Estiva, onde foi modificado todo o conjunto de evaporação para um quíntuplo efeito com múltiplas sangrias, reduzindo drasticamente o consumo específico de vapor.
JC – Como a Sugar Processing opera suas atividades no Brasil?
Fundora – Começamos nossas visitas ao Brasil por convite do IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool) ao começar a fabricação de açúcar demerara em grandes volumes pela ausência de Cuba no mercado de EEUU em 1960. Anos depois, em 1971, iniciamos visitas anuais ao nordeste do país e a região centro-sul. Desde 1992, temos uma parceria com a Fourteam Engenheiros Associados, empresa de com mais de 20 anos de experiência no setor, e em setembro de 1999 firmamos mais uma parceria, desta vez com a EngBoiler, empresa de engenharia dedicada a melhoria em caldeiras. Junto com a Fourteam, realizamos diversas consultorias tanto no Centro-Sul quanto no nordeste, além de termos projetado e instalado o primeiro cristalizador vertical da América do Sul, que foi montado na Usina Olho D Água-PE e ainda no mesmo ano foi instalado uma segunda unidade na Usina Santa Cruz-RJ. Este equipamento permitiu uma maior recuperação de sacarose de mel final, aumentando o rendimento industrial.
JC – Que avanços tecnológicos as usinas brasileiras deveriam adotar?
Fundora – Acompanhando os avanços tecnológicos da indústria açucareira, a instalação de cozedores contínuos a vácuo traz inúmeras vantagens, principalmente porque esta é uma das duas únicas etapas do processo produtivo que ainda é operada no sistema batelada na grande maioria das usinas. Nossa pretensão é despertar nos técnicos açucareiros o interesse pela adoção de cozedores contínuos, que deveriam eliminar qualquer preconceito que possa haver em relação a estes equipamentos, uma vez que estão mais que testados e aprovados pela indústria açucareira de outros países. A introdução deste aparelho melhorou notavelmente a operação na indústria açucareira, particularmente quanto à economia de energia e à uniformidade no tamanho dos cristais de açúcar, além de tornar contínua a produção da massa e fornecer mel final com baixos valores de pureza, aumentando a recuperação de sacarose da fábrica de açúcar.
JC – Como aumentar a recuperação de sacarose da cana?
Fundora – A sacarose na cana é fabricada no campo, por isso a importância das variedades, cultivo, adubo e o cuidado para que a mesma seja moída em um prazo de 24/48 horas depois de ser cortada. Uma vez transportada a cana à usina, a recuperação da sacarose contida na mesma tem dois aspectos principais, que são a extração do conjunto de moendas e a eficiência do departamento de fabricação. Com respeito ao tandem de moenda é preciso cuidado tanto com a regulagem quanto com a operação, não se esquecendo da importância da preparação da cana e de uma embebição composta adequada. Com respeito à eficiência do departamento de fabricação, tanto a qualidade como a recuperação começa na clarificação, onde são separadas as impurezas. Uma vez clarificado o caldo, as perdas de sacarose se limitam às perdas no lodo, sendo seu valor determinado pela eficiência do trabalho dos filtros rotativos/prensas e principalmente nos méis finais, estes sim representando a maior perda na fábrica. Existem também as perdas indeterminadas, mas como seu nome as define, depende do controle químico existente na unidade industrial. A diminuição das perdas nos méis finais são controladas quando se tem: cristalização adequada; cozimentos com bom controle de purezas e concentração ideal, evitando uso excessivo de água de lavagem, tendo bons controles do vácuo e pressão adequada para evitar excesso do tempo do cozimento; resfriamento adequado nas massas cozidas de baixa pureza e de acordo com o sistema de fabricação empregado, resfriamento também nas massas cozidas de alta pureza nos cristalizadores; e por último, uma centrifugação adequada, dando ênfase para evitar a diluição de cristais que aumenta a pureza nos méis.
JC – Visando aumentar a cogeração de energia elétrica, é preciso tornar os processos de produção mais econômicos. O que as usinas devem fazer para reduzir o consumo de vapor na industrialização do açúcar e do álcool?
Fundora – A usina açucareira é na verdade uma fábrica de evaporar água, já que a matéria-prima (caldo de cana) começa com a baixa concentração de 12 Brix e o produto final é praticamente sólido. A economia de vapor em uma usina começa pelo melhor aproveitamento da superfície da evaporação e sempre inclinamo-nos pelo sistema quíntuplo efeito com sangrias até da 4ª Caixa, utilizando vapor vegetal nas colunas de destilação. Como a evaporação nos cozedores a vácuo é em simples efeito, o xarope deve ser concentrado ao máximo possível, tendo usinas conseguido Brix do xarope de 72, como média na safra. O uso indiscriminado da água nos cozimentos e para diluição de méis constitui uma fonte de alto consumo de vapor e deve ser vigiado pelo químico responsável. Por fim, os equipamentos de transferência de calor devem ser convenientemente isolados assim como as tubulações que conduzem todo tipo de vapor, já que se pode alcançar até 3% de economia com este procedimento.
JC – Na sua opinião, qual o futuro da indústria sucroalcooleira no Brasil?
Fundora – No caso do açúcar vemos que há uma tendência para a produção de açúcar VHP para exportação e também do refinado. Claro que sempre existirá no Brasil, mercado para açúcar cristal especial de alta qualidade. Todavia há uma parcela de mercado para açúcar líquido, embora bem menor que no passado em função das fábricas já existentes. Acompanhamos o Próalcool desde sua criação e ficamos muito preocupados quando recentemente ele passou pela sua maior prova de fogo – excedente de produção. Já em dezembro de 1997, durante um fórum de debates sobre a recuperação do setor açucareiro de Cuba realizado em Miami, apresentamos uma proposta para adoção do modelo brasileiro, onde Cuba depois de democratizada exportaria grande parte de seu açúcar na forma de álcool para os USA. Nesta reunião, com a presença de dois congressistas, um republicano e outro democrata, nossa proposição foi aplaudida. Aí quero lembrar um fato importante, que é a possível exportação de álcool do Brasil para os EUA, caso o congresso americano aprove cotas de importação de álcool proveniente da América Latina.
Legenda –
Fundora: “A instalação de cozedores contínuos a vácuo traz diversas vantagens às usinas”
Para melhor explicar o assunto, a empresa desenvolveu em parceria com a Flora Tietê uma cartilha que contém as principais leis sobre a Educação Ambiental, que num futuro próximo deverá constar no currículo do ensino escolar. A empresa já tem o certificado ISO 9002 e o Selo Abrinq .
Através destas ações, conciliando o progresso tecnológico e respeito ao meio-ambiente, a Usina Colombo desmistifica a imagem distorcida de que uma usina é um agente poluidor.
Através destas ações, a Usina Colombo, que já possui o certificado ISO 9002 e o Selo Abrinq, desmistifica a imagem distorcida de que uma usina é um agente poluidor, pois concilia o progresso tecnológico com o respeito ao meio-ambiente.
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