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Doença nos EUA é alerta e desafio para o Brasil se consolidar na liderança entre os exportadores mundiais de carne bovin

O que parecia improvável aconteceu: os EUA começaram 2004 com um grande problema para resolver e dessa vez não é nada relacionado com terrorismo, guerra ou vistos em aeroportos. No dia 23 de dezembro, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) confirmou o primeiro caso de encefalopatia espongiforme bovina (BSE, na sigla em inglês, popularmente chamada de mal da vaca louca).

Com a notícia, o mercado mundial de carne bovina – que já em 2003 havia sofrido mudanças, como a longa estiagem na Austrália, levando o Brasil à liderança entre os países exportadores – viu-se diante de um grande dilema: será que o consumo mundial deverá cair, assim como aconteceu no início da década, quando o mal da vaca louca assolou a Europa?

Em outros tempos, a resposta seria imediata: sim. Mas as coisas mudaram. O Brasil conquistou a liderança mundial entre os exportadores de carne bovina e está investindo cada vez mais em alimentação de qualidade, sanidade animal e marketing, comprovando que nossos animais são criados a pasto, com risco praticamente zero de contaminação como o da vaca louca. “A carne brasileira é saudável, natural e de qualidade, exatamente o que desejam os consumidores em todo o mundo, em especial a União Européia e a Ásia”, afirma Celso Freitas, gerente de marketing da Tortuga, maior empresa de alimentação e saúde animal do País, com faturamento anual de US$ 150 milhões.

De acordo com Freitas, com o surgimento da vaca louca nos EUA, porém, o Brasil precisa comprovar, de fato, que tem condições de suprir a demanda mundial. “O principal desafio será a real implantação da rastreabilidade. O mercado externo fica cada vez mais competitivo e o Brasil incomoda muita gente com seu crescimento nesse segmento. Assim, acredito que as barreiras sanitárias e de controle serão cada vez mais intensificadas. Se os pecuaristas não fizeram a lição de casa e realmente colocarem a rastreabilidade como deve ser, poderemos enfrentar problemas a curto prazo, pois está será, a partir do surgimento da vaca louca nos EUA, a principal barreira para nossas exportações”, enfatiza Freitas.

O surgimento do mal da vaca louca nos EUA também serve de alerta aos pecuaristas brasileiros. Apesar de estar praticamente livre da doença, o País não pode descuidar de seu programa de sanidade. “Focos de febre aftosa, por exemplo, podem tirar a liderança do Brasil em um piscar de olhos. Portanto, todos devem estar atentos a isso, pois está aí a chave fundamental para manter o Brasil no topo entre os exportadores mundiais de carne bovina”, conclui Freitas.