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Matéria orgânica faz a diferença em canaviais

A adubação orgânica está deixando de ser insumo quase exclusivo de canaviais que não empregam tradicionalmente, produtos químicos, para tornar-se uma atraente opção de fertilização da terra. “Esse tipo de adubação deve ser considerada como uma boa alternativa para a cana convencional, pois melhora as condições físicas do solo”, avalia José de Paula Neto, engenheiro agrônomo da Usina Albertina, de Sertãozinho (SP). Ele lembra que, entre outros fatores positivos, o uso de produtos orgânicos melhora a capacidade do solo em reter a umidade, reduz os efeitos da compactação e ainda resolve problemas ambientais na usina, dando uma destinação adequada a resíduos industriais.

“Para minimizar a compactação, fazemos, também, o plantio de leguminosas nas entrelinhas de soqueiras na área de reforma”, diz o engenheiro agrônomo. A Albertina produz 1.700 hectares de cana orgânica, o que equivale a aproximadamente 25% do total produzido. “Nos outros canaviais, a adubação orgânica é empregada em áreas mais próximas da usina. É uma forma de baratear a adubação química”, afirma José de Paula. Ele observa que dependendo da distância, o custo já não se torna tão vantajoso.

A fórmula da adubação orgânica da Usina Albertina é composta por 70% de torta de filtro, 20% do lodo da lavagem da cana, obtido na decantação e 10% de bagaço. A quantidade utilizada é de vinte toneladas por hectare. Há ainda a aplicação de 400 m3 por hectare de vinhaça com água residual. Na adubação orgânica básica da Univalem, de Valparaíso (SP), há a utilização de 30 toneladas por hectare de esterco misturada com torta de filtro. A Univalem é, também, produtora de cana orgânica, com uma área de plantio de dois mil hectares, aproximadamente 10% do total.

De acordo com os resultados da análise de solo, a área agrícola da usina de Valparaíso aplica, também, fosfato de rocha. “O esterco é fornecido pelo proprietário de um confinamento de boi e o fosfato, obtido de rocha moída, é fabricado por uma empresa especializada”, informa Plínio Lara Neto, gerente agrícola da usina. A Univalem utiliza leguminosas na cana orgânica e nas reformas de todos os canaviais. “O adubo verde ajuda bastante na fixação do nitrogênio”, enfatiza. Nas lavouras de cana convencional, além da adubação química, há o uso de vinhaça e de torta de filtro como complemento.

A Usina Santa Maria, de Cerquilho (SP), faz mais de 80% da sua adubação nitrogenada com ajifer, um fertilizante líquido oriundo do processo de produção do glutamato monossódico (aji-no-moto). Segundo Renato Pilon, gerente agronômico da usina, o ajifer é uma fonte extra de enxofre, micronutrientes e matéria orgânica. O uso de produto está gerando uma economia de 20% a 30% em relação ao adubo químico. Com o objetivo de reduzir a adubação química, a usina de Cerquilho utiliza, ainda, um pouco de torta de filtro e vinhaça em dois mil hectares.

Adubação orgânica ajuda a melhorar produtividade

Rendimento depende, também, de outros fatores como controle do mato, cuidados com as soqueiras e idade do canavial

O gerente agronômico Renato Pilon, da Usina Santa Maria, considera a adubação orgânica como o principal fator para o salto de produtividade em suas lavouras: a média de 83 toneladas por hectare, obtida na safra anterior, já passou para 88 toneladas até a primeira quinzena de agosto. “Os resultados, até o final do ano, não deverão ser muito diferentes”, comemora. A associação entre matéria orgânica, práticas agrícolas adequadas e alta tecnologia podem provocar um aumento significativo no rendimento. A adoção do sistema de fertirrigação por gotejamento subterrâneo – com utilização de vinhaça, águas residuais e de lavagens – chega a registrar produtividades entre 150 a 200 toneladas por hectare, além de aumentar a idade média do canavial. A sua implantação é dificultada, no entanto, pelo custo que é considerado elevado. Um estudo de viabilidade econômica pode indicar, no entanto, as vantagens do sistema para uma determinada usina.

Para manter a produtividade elevada, é necessário considerar, no entanto, outras variáveis. Nos canaviais orgânicos, a Usina Albertina obtém uma produtividade de 77 toneladas por hectares, abaixo das plantações não-orgânicas, que chegam a 88 toneladas por hectares. José de Paula avisa, no entanto, que isto não tem nada a ver com a nutrição da planta. “A queda de produtividade só ocorre quando há a mudança da adubação mineral para a orgânica, pois os nutrientes da matéria orgânica demoram um pouco mais para serem liberados. Depois do primeiro ano, a cultura estabelece um ciclo de mineralização e não haverá mais problemas de nutrição. Pelo contrário, a plantação só tem a ganhar”, diz

No caso da usina de Sertãozinho, a produtividade menor da cana orgânica – de acordo com o engenheiro agrônomo — está relacionada a alguns fatores como idade do canavial, mato-competição e colheita mecanizada. “Na cana orgânica, realizamos sete cortes, enquanto que nas outras são feitos cinco. Estamos avaliando se mantemos essa situação. A tendência é fazer a reforma em menor tempo. Mas, por outro lado, a fertirrigação tem ajudado a manter essa longevidade”, pondera. A destruição de soqueira, devido ao pisoteio durante a colheita, está, também, sendo resolvida. Para reduzir a incidência de ervas daninhas, como tiririca e grama-seda, que não são contidas pelo colchão de palha, a Albertina tem experimentado e avaliado o efeito de algumas leguminosas. “O feijão-de-porco tem alguma relação com o controle da tiririca”, finaliza.

Serviço

Usina Albertina – Sertãozinho – SP – 16 3946-9000

Usina Santa Maria – Cerquilho – SP – 15 284-8000

Usina Univalem – Valparaíso – SP – 18 671-9000

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