Mercado

Planejar o plantio garante a boa produtividade

Cada vez mais as usinas estão se adequando às novas variedades de cana em suas áreas de plantio, mas um dos grandes vilões, especialmente desta safra, é o clima. Neste contexto, o planejamento varietal surge como uma das grandes alternativas para sobrepujar a estiagem e manter a produtividade em solos desfavoráveis.

O engenheiro agrônomo, Marcos Landell, coordenador do programa de cana do Instituto Agronômico de Campinas — IAC, diz que o planejamento varietal é um dos componentes mais importantes na produção de cana, desde a locação, manejo e fluxo. “Esse aspecto é fundamental, pois o que o corpo técnico da unidade decidir hoje, vai perdurar por cinco anos, até o final do ciclo da cana. É necessária muita reflexão, neste momento as usinas devem procurar informações com as instituições de pesquisa. É arriscado plantar sem discutir sobre o assunto”, explica.

Landell ressalta que alguns pontos são decisivos para a escolha da melhor variedade. “O primeiro ponto fundamental é identificar o ambiente de produção, ou seja, o solo, clima e manejo. Depois analisar as características de cada variedade, o comportamento, o perfil de cada variedade e o desempenho em cada safra”, ensina.

Segundo Landell, após a análise desses pontos, o próximo passo é definir a locação de variedades, associando-as ao ambiente de produção. “O IAC tem trabalhado o ambiente de produção, que além do caráter químico, possui a capacidade de troca catiônica do solo e a capacidade de retenção de água do solo. Nesse contexto temos o projeto Ambicana que visa dar subsídio para informar o ambiente de produção e gerar informação sobre manejo varietal. Já o outro programa desenvolvido pelo IAC, o Procana, é responsável pelo desenvolvimento de variedades”.

O instituto atende 32 usinas para promover o estudo de todas as variedades através de ensaios. “São 220 ensaios de competição para obter informações básicas e descobrir o comportamento para produzir as variedades”, salienta Landell.

Uma das variedades em destaque do instituto é a IAC 873396, desenvolvida para ambientes desfavoráveis e solos pobres. Outra variedade é a IAC 862210 que é precoce, com boa performance, indicada para o início de safra e ambientes médios de produção. Os lançamentos são IACSP 936006, para ambientes médios a desfavoráveis para cana precoce ou solos arenosos e a IAC 915155 para solos arenosos e textura média. “Não tenho aconselhado a colheita mecanizada no primeiro corte, pois com o aumento da produtividade há arrancamento de soqueiras, devido o sistema radicular superficial”.

Variedades experimentadas em 32 usinas

William Burnquist, engenheiro agrônomo e coordenador do programa de variedades de cana do Centro de Tecnologia Copersucar – CTC, explica que as variedades são avaliadas através de experimentos em 32 usinas, em diferentes condições, solos e clima. “São testadas para colheita mecanizada, sem restrições, sempre tentando diminuir as perdas”.

O engenheiro agrônomo, René de Assis Sordi, também do CTC diz que a SP83-5073 tem alcançado bons resultados em regiões de clima seco, assim como a SP83-2847, que é adaptada a solos de baixa fertilidade. “Na colheita mecanizada, a variedade de melhor brotação debaixo da palha tem sido a SP80-1816. Liberaremos comercialmente em 2003 a SP90-3414, de porte ereto e uniforme, além das SP89-1115 e a SP91-1049, que são produtivas, precoces e com alto teor de sacarose”.

Usinas seguem as orientações de institutos de pesquisa

Segundo o engenheiro agrônomo Djalma Eusébio Simões Neto, coordenador do programa de melhoramento genético de cana da Estação Experimental de Cana-de-Açúcar do Carpina (PE) ligada a Rede Interuniversitária do Desenvolvimento Sucroalcooleiro – Ridesa, as variedades mais usadas na região são RB 763710, RB 72454, RB 75126, RB 81304, RB 83594 e RB 83102. “Temos clones em lançamento tanto em Pernambuco como em Alagoas.

A Universidade Federal Rural de Pernambuco vai lançar a variedade RB 872552, a RB 932520, a RB 863129 e a RB 943538. A Universidade Federal de Alagoas vai lançar a RB 92579 e a RB 92509. Essas variedades têm alta produtividade e alto teor de sacarose. Na questão de mecanização da colheita, estamos começando a trabalhar com essa técnica agora”, lembra.

Armando Carlos Alves de Mello, gerente agrícola da Usina Ipiranga, de Descalvado (SP), explica que a empresa é filiada da Copersucar, que fornece uma equipe técnica para acompanhar o desenvolvimento das variedades. Mello segue as instruções dos especialistas e acredita na necessidade de se verificar no momento do planejamento varietal, as variedades mais resistentes à pragas, doenças, seca adequando cada variedade à tipos de solo e ambientes de produção.

Padrão de solo uniforme não é sinal de que uma variedade é suficiente

Segundo o gerente agrícola Armando Calos Alves de Mello, da Usina Ipiranga (SP), se a Usina tiver um padrão de solo bem uniforme, deve-se plantar 25% de cada variedade de cana na área total plantada porque variam os ambientes de produção e época de colheita.

De acordo com o departamento agrícola da Usina Barrálcool, do Mato Grosso, a variedade mais plantada é a SP79-1011, que tem resistido bem à seca, além de resultar em alta produtividade.

A Vale do Verdão cultiva 44.712,61 ha e verifica vários aspectos na hora de planejar o plantio. Carlos José Silva, gerente agrícola da Usina Vale do Verdão, de Goiás, explica que as principais características das cultivares de cana-de-açúcar observadas durante o planejamento de plantio são a adaptação da cultivar para cada ambiente de produção das áreas da empresa; maturação, resistência à seca; exigência em fertilidade dos solos; produtividade agrícola; brotação das soqueiras, qualidade tecnológica (teor de sacarose e de fibras); florescimento, isoporização e resistência à doenças.

Na próxima safra a empresa estima aumentar a área de plantio, passando para 45.000 ha. “Temos o convênio com a Copersucar e a Universidade Federal de São Carlos (SP), que desenvolvem testes experimentais de competições de variedades dos materiais novos lançados por estas instituições”, frisa o gerente agrícola Dirceu de Carvalho.

O professor Ailto Casagrande, do departamento de produção vegetal da Unesp de Jaboticabal (SP) concorda com Marcos Landell. “O planejamento varietal é um dos itens importantes da produção de cana. Para a análise de uma variedade deve se fazer o levantamento do solo e levar em conta a distância da empresa que fornece a variedade de cana para a usina ou o local que se vai plantar, condições de acesso a usina, o período útil de industrialização – PUI, a curva de maturação pois existem variedades que têm período de maturação curto, médio e tardio ou agüentam mais tempo no campo. É preciso observar se a planta é resistente à pragas e doenças e se é adaptada a colheita mecânica de cana crua ou cana queimada.

Segundo o professor, as variedades mais plantadas pelos 114 produtores de usinas cooperadas da Copersucar, cadastrados no Estado de São Paulo em 2001 são a RB 72454 escolhida por 14,9%, SP 81-3250 por 10,1% dos consumidores e a SP 80-1842 por 9,4% dos produtores. “Os testes são importantes pois nos processos de multiplicação das variedades aparecem doenças que não apareceram durante o processo de experimentação”, finaliza.

Banner Evento Mobile