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Chega de andar de lado!

A América Latina persiste como o continente de imensos potenciais. Próxima dos Estados Unidos e a uma distância razoável da Europa, o continente diferencia-se profundamente da África, pois não tem problemas naturais como a desertificação de vastas áreas e mantém um determinado padrão educacional que, se não é de Primeiro Mundo, pelo menos a distingue em relação ao continente africano. A relativa proximidade geográfica com a Europa e os Estados Unidos representa, ainda, uma vantagem em comparação a vários países da Ásia, com os quais compete diversos mercados.

Com seus recursos naturais e humanos, a América Latina tem condições de ser o continente de maior desenvolvimento no século 21. No entanto, este potencial é diluído pela velha rotina de desigualdades sociais profundas – processo agravado pela forma como foi adotada a globalização na região.

O continente não conseguiu negociar condições favoráveis, que lhe permitisse ganhos no processo de internacionalização da economia. Suas dificuldades, estruturais e históricas, se aprofundaram e isso se traduz num índice grande de desemprego. Dados divulgados pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), ligada às Nações Unidas, mostram que o desemprego na América Latina e Caribe chegou a 9,2% nos primeiros nove meses do ano – é a maior taxa dos últimos 22 anos. A expectativa da OIT é que esta taxa encerre o ano ainda mais alta, em 9,3%.

A entidade considera o desemprego atual maior do que o de outros períodos de recessão generalizada, como a crise da dívida externa, quando a marca chegou a 8,4% em 1983. Nem mesmo a crise asiática, do final dos anos 90, conseguiu colocar tanta gente na rua: na época, o desemprego era de 8,9%.

Como era de se esperar, o desemprego urbano foi mais sentido na Argentina, país que adotou modelos liberais a ferro e fogo, com a taxa passando de 16,4% nos primeiros nove meses de 2001 para 21,5% neste ano. No entanto, outros países apresentaram aumentos expressivos em suas taxas, como o Brasil, de 6,3% para 7,3%; Costa Rica, de 6,1% para 6,8%; e México, de 2,4% para 2,8%; entre outros. Apenas cinco países apresentaram recuo do desemprego na região – Equador, Colômbia, El Salvador, Panamá e Chile, informa a OIT.

Embora saibamos que a questão do desemprego vem na esteira do aumento da automação e dos avanços de produtividade, não são estes os principais fatores para a penúria social da América Latina. As causas são projetos de contenção monetária, em que a busca do desenvolvimento foi sacrificada pela pressão de superávits fiscais cada vez maiores – leia-se corte de gastos públicos, principalmente os sociais. É urgente mudar este quadro, sob pena de aprofundar problemas sociais que são justamente o ponto fraco do continente. E mais: há um espaço internacional neste momento em que as próprias instituições internacionais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, questionam as políticas impostas aos países em desenvolvimento. Que seja o Brasil este país pioneiro em estabelecer estes novos paradigmas de desenvolvimento. Afinal, o desenvolvimento é o melhor tempero para a austeridade fiscal.

Arnaldo Jardim, Deputado Estadual – e-mail: [email protected]

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