Mercado

Um diferencial brasileiro

Vivemos um momento de incertezas, em que a possibilidade de uma intervenção unilateral americana no Oriente Médio parece colocar em risco o projeto de construção de uma ordem internacional pacífica. A idéia de que a agenda internacional, com a Queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria, seria mais inclusiva e construída por consensos que se tornariam cada vez mais amplos, parece estar seriamente abalada.

Abalada, porém, não derrotada. Se é verdade que os Estados Unidos estão cada vez mais propensos a adotar uma política do “go-it alone” (que podemos traduzir por “do-eu-sozinho”), cabe ao resto do mundo (com uma expressiva atuação dos países europeus) não deixar que as recentes conquistas nas áreas multilaterais sejam abandonadas ou ignoradas.

Para nós brasileiros, por exemplo, é fundamental que os avanços na área ambiental não passem despercebidos.

Em meados de setembro, as câmaras de comércio da Alemanha e dos Estados Unidos, aliadas a representações da Suíça e da França, criaram um comitê para discutir as oportunidades de comércio de créditos de carbono.

É um mercado novo – mas que já deu seus primeiros passos e já temos várias usinas certificadas no Estado de São Paulo. O potencial da venda de crédito de carbono é expressivo, podendo superar 350 milhões de toneladas de CO2, segundo informação publicada em 30/09 pela Gazeta Mercantil.

Mais: está em tramitação no Congresso o projeto de parceira entre Alemanha e Brasil para créditos de carbono que se traduzem na produção de 100 mil carros movidos exclusivamente a álcool, com subsídio de R$ 1.000,00 ao consumidor por veículo. O acordo entre Brasil e Alemanha foi assinado na Rio +10, a conferência mundial sobre meio ambiente em Johannesburgo, na África do Sul. A reunião foi prejudicada pela intransigência dos Estados Unidos em abrir mão das vantagens concedidas às indústrias de petróleo e de carvão em favor de fontes de energia mais limpas. Foi o governo dos EUA que vetou a proposta brasileira, endossada pela União Européia, de fixar uma meta global de 10% a 15%, até 2010, para o uso de fontes renováveis.

No entanto, os compromissos em direção à energia limpa acabaram por atropelar a inércia dos Estados Unidos na questão. O uso de fontes renováveis aumentou 30% nos últimos anos, em relação ao aumento de 2% dos combustíveis fósseis, segundo a ONG norte-americana World Watch. Além disso, tanto a Rússia como a China comprometeram-se a assinar o Protocolo de Kyoto, que prevê a redução de gases que provocam o efeito estufa, principalmente o CO2.

Aos poucos, a noção de que proteger o meio ambiente é uma questão fundamental ganha adeptos pelo mundo – até mesmo nos Estados Unidos. Embora o governo da Califórnia tenha adiado por um ano, para 2004, a obrigação de trocar o MTBE (aditivo fóssil e cancerígeno) pelo álcool na gasolina, muitas das refinarias locais resolveram manter o prazo para a mudança. Afinal, consumidores do estado chegaram a processar uma companhia petrolífera responsável pela contaminação do lençol freático com MTBE. Meio ambiente também é questão de sobrevivência.

Arnaldo Jardim é deputado estadual – E-mail: [email protected]

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