Ele é um “expert” em produção de energia elétrica, tendo, inclusive, participado da Comissão Nacional do Setor Elétrico, e vem desenvolvendo ousados projetos na área de cogeração de energia, seja a partir do bagaço de cana, madeira ou casca de arroz.
Luiz Otávio Koblitz, 52 anos, diretor-superintendente da Koblitz – tradicional empresa fornecedora de equipamentos e serviços elétricos ao setor sucrolcooleiro, que este mês completa 25 anos -, nasceu em São Luiz do Maranhão, criou-se em Recife (PE) e cursou engenharia na França, onde trabalhou em uma grande empresa de geração de energia.
De volta ao Brasil, foi professor de escolas técnicas e faculdades de engenharia. Com a criação do Fundo Proçúcar (fundo formado pelo confisco da diferença entre o valor recebido pelos produtores e o valor vendido no mercado externo pelo IAA – Instituto do Açúcar e do Álcool) no início dos anos 70, na época, as usinas passaram a investir na modernização do parque industrial, inclusive na importação de geradores, surgindo a necessidade de quem montasse esses equipamentos e oferecesse assistência técnica especializada. Foi daí que a Koblitz iniciou sua atividades.
Com o advento do Proálcool, a empresa solidificou-se e ampliou sua atuação para outros setores industriais, contudo, o mercado sucroalcooleiro responde ainda hoje por 30% do seu faturamento.
Nesta entrevista exclusiva, Luiz Otávio Koblitz apresenta sua visão e propostas diferenciadas para efetivar a cogeração de eletricidade como mais uma energia que vem da cana. Confira!
JC – O senhor acredita que as usinas estão priorizando os investimentos em cogeração de energia?
Koblitz – Acredito, e por dois motivos. O primeiro diz respeito a crise que se abateu sobre o setor, o que fez com que as unidades recorressem a um novo produto, a energia elétrica. Um produto que se diferencia do álcool e do açúcar, porque se houver uma redução brusca desses produtos, seja por problemas climáticos, ou até mesmo por falta de financiamentos, o Brasil pode vir a exportar menos, ou importar mais petróleo e tudo se resolve. Já com a eletricidade é diferente porque, quando o setor gerar um contigente importante, o país não poderá importá-la. Além do mais, as usinas receberão um tratamento diferenciado da sociedade e do governo por serem produtoras de energia elétrica.
No momento, as usinas estão num ritmo relativamente acelerado em relação aos investimentos que tem sido realizados no setor elétrico brasileiro.
JC – Qual é a capacidade instalada do país para a geração de eletricidade?
Koblitiz – O Brasil tem hoje, 67 mil MegaWatss de potência instalada, considerando cerca de 6,3 mil MW da Hidrelétrica de Itaipu Paraguaia. Assim, nem toda esta capacidade é nossa, mas está à disposição do país. Para os próximos 10 anos, o país precisa de mais 40 mil MW, ou seja, um volume assombroso. Isso equivale entre geração, transmissão e distribuição, investimentos da ordem de US$2 mil por KW, o equivalente a US$8 bilhões por ano.
JC – Cogerar energia através da biomassa seria o melhor caminho?
Koblitiz – Com certeza. Mas é bom lembrar que além das hidrelétricas, existem mais três possibilidades. A primeira que está sendo fomentada pelo governo, são as grandes usinas térmicas a gás natural de ciclo combinado. A segunda é a cogeração com o gás natural através de pequenas e médias centrais. E a terceira é a geração e cogeração através da biomassa.
Vejo que a melhor opção é a cogeração através da biomassa, que está geograficamente bem distribuída segundo que 100% dos equipamentos são nacionais e terceiro que a matéria-prima, no caso da biomassa, é nossa.
Já com a cogeração através do gás natural é diferente. Primeiro que 50% dos equipamentos e maior parte do gás são importados, porém faço uma ressalva, ela também está geograficamente distribuída. Com as grandes térmicas, ocorre o contrário, pois elas não estão geograficamente distribuídas, seus consumidores não operam junto delas, tendo ainda o problema das linhas de transmissão; 80% dos equipamentos são importados e grande parte do gás também. Um outro problema é a eficiência global, que é pouco maior do que a da cogeração.
JC – E qual o volume de eletricidade que as induústrias sucroalcooleiras comercializam atualmente?
Koblitz – As usinas fornecem um número inexpressivo. Poderíamos calcular algo em torno de 20 MW, e isso é praticamente nada perto do seu potencial, mas já é extremamente importante do ponto de vista tecnológico. Só para se ter uma idéia, a primeira usina que cogerou energia no país, em paralelo (ligado ao sistema público), foi a Usina Japungú, na Paraíba, pioneira no processo de cogeração em 1982.
A melhor opção é a biomassa. Porém, atualmente é a menos prestigiada, começando pelo governo que acaba dando incentivo às termelétricas a gás, não dando a devida atenção à biomassa. Nesse sentido, estamos buscando um caminho para resolver o problema junto ao governo, para que tenhamos uma política que proporcione melhores incentivos.
JC – E como o senhor vê a reação das unidades produtoras em relação a esta questão?
Koblitiz – As usinas de açúcar e álcool saíram de uma crise e por enquanto ninguém está discutindo o assunto, muitas ficaram com problemas de caixa, mas elas sabem que precisam investir.
A Koblitiz, em parceria com a CGDE (Companhia de Distribuição de Energia Elétrica) está com quatro projetos em usinas de açúcar e álcool no Estado de São Paulo e está trabalhando para a implantação da tecnologia em mais 20. Destas, esperamos concluir as negociações com quatro num prazo de 30 ou 60 dias. Estamos falando de 15 ou 20 MW a mais por usina.
No momento em que esse setor tiver uma participação expressiva e importante dentro do sistema elétrico, essas usinas vão ser mais prestigiadas e menos injustiçadas. Com isso terão voz mais ativa, e aí vai haver uma preocupação dos agentes distribuidores locais.
JC – Quais as garantias que as usinas dispõem para investir na cogeração de energia?
Koblitz – A energia elétrica já é uma grande garantia. O Brasil está em crescimento de consumo de energia. Hoje, o consumo per capta no país é muito baixo, cerca de 1,7 mil KWh por habitante/ano, enquanto no primeiro mundo é de 8 mil KWh por habitante/ano. Temos uma grande população de pobres e miseráveis, com um consumo bem pequeno. Se houver uma elevação de ganho de renda nesta camada da população, teríamos um consumo de energia em níveis maiores do que os atuais. No ano em que o crescimento econômico foi zero, o consumo de eletricidade cresceu 2,8%. Nesse ano que se diz que é 4%, o consumo de energia elétrica vai a 7%. Trata-se de um produto que sempre apresentará aumento na demanda.
JC – A oferta acompanha o crescimento do consumo?
Koblitiz – Há quatro anos que os investimentos no setor elétrico são menores do que a necessidade de expansão futura. O que não foi feito no passado, passa a repercutir no presente, e com isso já assistimos uma necessidade imperiosa de se retomar os investimentos visando atender a demanda em futuro próximo.
JC – Então, a geração de energia é um bom investimento?
Koblitz – Os projetos de geração de energia e cogeração tem três grandes focos de risco.
O primeiro é o risco tecnológico, que é muito baixo pelo fato do Brasil ter tantas máquinas semelhantes fabricadas e em funcionamento. O segundo é o risco da venda da energia que também é baixo, pois os contratos são de 10 a 15 anos, portanto superior ao tempo de amortização e realizados com grandes empresas distribuidoras ou comercializadoras com grande capacidade financeira. O terceiro risco é o da diminuição ou desaparecimento do bagaço, ou em outras palavras, a falta de cana. Esse risco corre em paralelo com a própria atividade do açúcar e do álcool. O fato das unidades agregarem valor com a venda da energia elétrica, só reforça e contribui para a continuidade de sua operação.
JC – Analisando hoje o perfil industrial das usinas, qual seria o melhor caminho tecnológico?
Koblitiz – As usinas brasileiras, com todo respeito, estão “erradamente corretas”. Corretas, porque foram feitas para não sobrar bagaço e nem faltar, pois se houvesse sobra de bagaço, haveria um grande prejuízo. Por outro lado, se fosse deficiente, também seria ruim.
O acerto do passado passou a ser um erro no presente, na medida em que hoje se busca aumentar as sobras de bagaço para transformá-lo em eletricidade. Mas isso, precisa ser feito de forma parcial, pois não existe fórmula mágica. No caso da Koblitz, o que a gente faz é dar uma força nesse projeto para que haja sobra de bagaço e se consiga um bom retorno. Esta habilidade nós já temos pela experiência e em encontrar não necessariamente um projeto técnico, mas a melhor condição de retorno de capital.
JC – Como o senhor vê a cogeração através do ciclo combinado com o gás natural nas usinas de açúcar e álcool?
Koblitiz – O gás natural e o ciclo combinado é para um outro tipo de indústria. Não tem nada a ver com a usina. O bagaço não consegue ainda trabalhar dentro do ciclo combinado.
JC – Quais são as propostas da Koblitz?
Koblitz – Temos várias parcerias que vem funcionando muito bem, podemos tanto fornecer centrais em regime “chave na mão” para nossos clientes, bem como através de parceiros financeiros como a empresa portuguesa CGDE, BK (Brennand/ Koblitz Energia LTDA), onde fazemos o investimento no lugar do cliente e passamos a comprar a biomassa e vender energia elétrica e vapor.
Podemos fornecer também todo o sistema elétrico, toda a parte de interligação com concessionária, como painel de gerador, a logística, o software que controla tudo isso, a automação, enfim o projeto global. É o que chamam de EPC (Engenharia Compra e Construção). A implantação de tudo pode ser por nossa conta.