O mercado de açúcar uma vez mais fechou a semana (25 a 29/02) em alta com ganhos entre 31 e 49 pontos, ou seja, entre 7 e 11 dólares por tonelada. O março expirou com a entrega de aproximadamente 8.500 contratos, ou 432.000 toneladas. Entre aqueles que entregaram está a refinaria de Dubai.
Ora, veja só a demanda!! Em vinte pregões, o mercado variou mais de 55 dólares por tonelada. O dólar continua a evaporar e com ele o retorno para o produtor. Com o dólar a R$ 1,69 o custo aproximado de açúcar FOB está em torno de 13 centavos de dólar por libra-peso.
A eficiente negociação de açúcar está baseada em três pilares que as usinas precisam entender. Preço, prêmio e dólar. Precisam saber fixar o preço, precisam saber a hora de colocar vendas nos livros e obter um prêmio ou desconto compatível com o mercado e, último mas não menos importante, precisam saber a transformar tudo isso em real.
A volatilidade das opções não teve nenhuma variação. Ela ainda continua alta se compararmos com a média de 20 dias. A volatilidade de maio está em torno de 42% e a de julho 38%. Vimos um pequeno acréscimo para as volatilidades de outubro de 2008 e março de 2009.
Volatilidade alta significa percepção de risco pelos participantes do mercado e, portanto, mais pessoas estão dispostas a pagar mais para terem proteção. Comprar volatilidade nesse estágio é perigoso. Se tiver coragem e disponibilidade de caixa, fazer o delta hedging [posição em opções que replica uma posição no mercado futuro] com a venda de opções é uma alternativa que provavelmente vai agregar valor ao preço final. Duro é o susto da montanha russa.
O consenso geral é de que ainda existe muito dinheiro sendo direcionado para as commodities e o açúcar está entre aquelas que devem receber dinheiro novo. No entanto, é bom que os participantes do mercado de açúcar vejam o que ocorreu recentemente com o trigo e aprendam com os outros.
Neste mês o trigo chegou a subir 40%, saindo de 960 centavos d e dólar por bushel para 1349. Depois de alcançar a máxima derreteu para 1092, ou seja, uma queda de 20%. Cacau, prata e açúcar foram os que mais subiram em 2008. Fique de olho, pois tem cheiro de correção no ar.
Nesta mesma semana, um trader de uma grande corretora mundial aproveitou a falha do sistema de ordens e fez operações não autorizadas no mercado de trigo, que resultaram em prejuízos de mais de R$ 200 milhões em apenas um dia. É o Jérôme Kerviel fazendo escola. Um atestado de como esses maravilhosos sistemas de risco funcionam que é uma beleza.
Segundo o índice criado pela Archer Consulting, o percentual de volume destinado a fixação no mercado de açúcar está baixo. Houve uma extraordinária concentração de hedges no inicio de janeiro com média de 11,70 centavos de dólar por libra-peso.
Mesmo as empresas mais disciplinadas que tenham feito seus hedges na alta do dia dos últimos 20 pregões, a média seria de 20 dólares por tonelada abaixo do fechamento de sexta. Não dá para acertar o olho da mosca voando. Por aí se tem uma idéia de quanto dinheiro já foi remetido para as chamadas de margem.
Um corretor de uma grande instituição financeira foi orientado pelo compliance [funcionário responsável pela observância da política de procedimentos e das regras de conduta da empresa] no sentido de que suas observações sobre o mercado de açúcar para os clientes não fossem tão contundentes em relação à tendência do mercado.
A julgar pela observação do funcionário, a atitude correta do corretor deveria ser como a de Pinocchio, no filme Shrek III, quando o príncipe vilão indaga o boneco sobre o paradeiro do mocinho e pode ser vista no YouTube (http://www.youtube.com/watch?v=iTAIdLnyuEE).
Se mentisse, Pinocchio se entregaria, pois o nariz iria crescer. Então, ele deveria dar uma resposta que não o comprometesse e não o fizesse mentir e denunciar o plano. Trazendo para o nosso mercado, imaginou-se o seguinte diálogo entre o cliente de açúcar e o corretor de futuros:
Cliente: Para onde você acha que vai o mercado de açúcar?
Corretor: Olha, eu não sei dizer para onde ele não vai.
Cliente: Quer dizer que não sabe para onde vai o mercado?
Corretor: Olha, não seria impreciso supor que eu não poderia não dizer exatamente que isso é ou não é quase parcialmente incorreto.
Cliente: Então sabe para onde vai o mercado?
Corretor: Pelo contrário, acho que eu estou mais ou menos não rejeitando de vez a idéia que de jeito nenhum com algum grau de incerteza inegavelmente sei ou não sei onde o mercado provavelmente não deveria estar se lá não fosse mesmo o lugar onde ele estivesse.
O compliance ficaria orgulhoso.
Uma frase na música do saudoso Nelson Gonçalves diz algo como “me dê as flores em vida”, querendo chamar atenção que as homenagens devem ser dadas em vida. E esse espaço faz uma especial homenagem ao amigo Aldo Alvares, figura carimbada do setor sucro-alcooleiro, que anunciou sua aposentadoria da Copersucar depois de dedicados 25 anos de trabalho.
O Aldo é um grande companheiro que na época em que tive a honra de vestir a camisa da então gigante da Moóca (hoje da Paulista), pacientemente me descreveu minuciosamente os passos do mercado de açúcar e álcool para o qual eu iniciava, vindo do café, em 1995.
Soube nos bastidores que a Copersucar, em justa homenagem, vai colocá-lo acompanhado da esposa na classe executiva de um vôo rumo a Paris, para um merecido descanso na Cidade Luz com tudo pago. Aqui se faz, aqui se recebe.
Tenham uma ótima semana
* Arnaldo Luiz Corrêa é consultor e sócio-diretor da Archer Consulting – Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.