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Jaime Lacerda aceitou, desafiou e criou tecnologia nacional do álcool

No início dos anos 60, todos os projetos de destilaria no Brasil eram franceses (Barbet, Fives Lille) ou alemães (Vogelbush). Naquela ocasião, a tecnologia da Vogelbush comprada pela Codistil vinha dando muitos problemas para as usinas que haviam adquirido o projeto, e a empresa contratou o engenheiro químico Jaime Lacerda para tentar resolver o problema. A solução veio em forma de um projeto transformada na tecnologia nacional que os fabricantes de colunas de destilação usam até hoje.

Daquele momento em diante o setor sucroalcooleiro confirmaria a incorporação de um abnegado pela destilação de álcool, tanto que acabou sendo reconhecido como o “pai da tecnologia” do álcool no Brasil. Hoje, com pouco mais de 80 anos, Jaime Lacerda tem um rico currículo que comprova 53 anos de dedicação à agroindústria sucroalcooleira. “Fui contratado pelo antigo IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool) para montar um laboratório no seu novo prédio na Rua Formosa em São Paulo, e me pediram para produzir álcool de 700 toneladas de melaço que restavam em uma destilaria do Instituto em Minas Gerais. Foi realizado o trabalho e fiquei por seis anos operando a planta. Paixão à primeira vista. Desde então não deixei meu xodó”.

O “pai da tecnologia” faz questão de manter-se em plena atividade. “Apesar de estar em meus ‘oitentões’, viajo diariamente, prestando consultoria no Sudeste e Nordeste do país; conheço grande parte do mundo e sempre viajei em função da minha especialidade”, acrescenta ele.

Sobre o futuro do setor sucroalcooleiro, Jaime Lacerda explica que “há um consenso mundial nas especificações do álcool etílico, nossa tecnologia é excelente, temos um know-how também excelente e fornecemos grande número de destilarias para o exterior”. Para ele, esse contexto permite vislumbrar expansão da agroindústria sucroalcooleira, conquistando novos mercados. “Com o começo da extinção do petróleo e o grande interesse mundial na tecnologia alcooleira, a produção de álcool no mundo tem se desenvolvido muito e, em especial, nos Estados Unidos, que não se interessavam pelo produto”, afirma.

O “pai da tecnologia do álcool” analisa que há um consenso nacional e mundial nas especificações e uso do álcool combustível, e a tecnologia nacional excelente, acrescentando que o domínio da célula de combustível surge como proposta futura para o álcool, “fundamental para o mundo, pois o etanol é um produto renovável e consiste numa energia limpa”.