Mercado

Segurança dos canaviais é novo alvo das seguradoras

A segurança dos canaviais é um filão que começa a ser disputado entre as companhias seguradoras.

Inexistem levantamentos precisos, mas poucas das entre 264 a 270 milhões de toneladas de cana-de-açúcar cultivadas no País contam hoje com apólices protetoras. O mercado torna-se ainda mais sedutor porque é heterogêneo, com 308 fábricas que também produzem cana e outros 66 mil fornecedores particulares. Ou seja: há clientes potenciais de sobra.

Apesar de promissor, o mercado de seguros de canaviais é atualmente disputado por praticamente duas companhias: a estatal Companhia Seguros do Estado de São Paulo —Cosesp e a Vera Cruz, controlada pelo grupo espanhol Mapfre. Outras seguradoras ensaiam entrar no ramo.

É fácil entender o porquê do número reduzido companhias de seguros. Hoje a cana-de-açúcar é disputada pelas fábricas, mas até há bem pouco tempo era vista como uma cultura com mais baixos do que altos, e, sem valores agregados, era ofertada em perfeita sintonia com as exigências da demanda. Por isso, então, se houvessem problemas climáticos, o prejuízo no campo não era motivo de desespero.

Um estudo recentemente divulgado pela seguradora do Banco do Brasil, a Aliança Brasil, lembra que o seguro rural ainda é incipiente no Brasil. Entre os motivos estão problemas de custo e de padronização, que impedem que um volume expressivo da produção agrícola brasileira seja protegido.

Enquanto o seguro de automóveis atinge 25% da frota nacional, o rural, conforme o levantamento, não chega a 1% do total plantado no Brasil.

O estudo revela o comportamento dos agricultores no geral, mas no tocante à cana-de-açúcar, a realidade é outra, o que deve impulsionar o setor. Além da biomassa em si, o bagaço da cana tornou-se

outro imperativo. No começo de outubro, sua tonelada custava R$ 30 em Sertãozinho, município paulista com tradição canavieira e com a área agrícola toda tomada. Na mesma localidade, a tonelada de cana valia R$ 28.

Em regiões paulistas concentradas de cana como Sertãozinho, Ribeirão Preto e Piracicaba, o seguro agrícola ganha mais importância pela logística. Pelos métodos operacionais de hoje, a planta mais viável é a localizada em até 40 quilômetros da unidade produtora. Como esses três municípios contam com cerca de 12 das principais fábricas do País, a planta cultivada dentro do raio de 40 quilômetros é considerada ouro puro.

Outro motivo que sinaliza o crescimento do setor de setor é a escassez na oferta da planta. Na safra 2003/4, assim como ocorre no ciclo atual, a oferta deve ficar restrita mais por conta das condições

climáticas desfavoráveis — veja matéria sobre o assunto nas páginas 24 a 26 da edição de outubro. Este é mais um exemplo de como o setor sucroalcooleiro ajudará a ativar mais um segmento da economia brasileira, ao movimentar o mercado de seguros.

Cosesp espera crescer número de contratos em 19%

Os encargos do seguro devem ser incluídos no custo de produção da cana-de-açúcar. Esta é uma das propostas das companhias para alavancar o segmento, em que o produtor rural ainda é tímido. Outra realidade que deve impulsionar o mercado é o financiamento externo. Os

compradores internacionais exigirão garantias de produção e as apólices avalizam qualquer negociação.

De olho nesse nicho, a Vera Cruz, controlada pelo grupo espanhol Mapfre, acaba de estender para a cana sua linha Colheita Garantida. Por esse tipo de seguro, o cliente pode escolher o percentual de cobertura – de 10% a 70% – da produtividade média da micorregião e, caso o rendimento, seja inferior, a seguradora garante a diferença que exista entre a produtividade garantida na apólice com a realmente obtida no período da safra. “O custo dessa modalidade tem taxas a partir de 0,1%, e dependerá do percentual garantido da safra”, diz Miguel Angel Corrales Gallego, diretor adjunto de Seguro Rural da Vera Cruz.

A Companhia de Seguros do Estado de São Paulo – Cosesp – aposta no crescimento das apólices junto aos produtores. Conforme comunicado divulgado pela imprensa, depois de dois anos em queda, a empresa, que durante 30 anos foi a única a realizar seguros agrícolas no Brasil, estima para a safra 2002/03 um aumento de 19% sobre os contratos fechados na safra 2001/02.

Segundo dados da seguradora, na safra passada a empresa fechou 19,2 mil contratos de seguros rurais, volume 34,7% inferior aos contratos negociados ano safra 2000/01, que atingiram 29,4 mil. No período 1999/00, por exemplo, haviam sido realizadas 51 mil operações.

A diretoria da Vera Cruz faz avaliações, mas também promete crescer, neste ano, seu Canavial Seguro, direcionado contra incêndios. Ele vigora no período da entresafra e cobre as áreas que porventura sejam queimadas. O cliente precisa segurar toda a propriedade agrícola.

Conforme Gallego, se a cana está no primeiro corte, paga-se até R$ 1,2 mil por hectare. Se está até no terceiro corte, a cobertura por hectare é de até R$ 1,1 mil. O valor cai para até R$ 800 no caso de a a planta estiver no quarto corte. “Os valores são definidos pelos segurados e a taxa da seguradora refere-se a 1% dos valores descritos”, diz, lembrando que a empresa entrou no ramo

por conta de pedido de fornecedores particulares de Guariba e região, no interior paulista.

A empresa, que já atua no seguro do campo desde 2001, estima crescimento de 51% em prêmios recebidos. De acordo com o diretor, em 2001 foram recebidos em prêmios R$ 3,3 milhões. A estimativa para este ano é de chegar a R$ 50 milhões.

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