Mercado

Investimentos em usinas podem parar

Os grandes consumidores e autoprodutores de energia elétrica, como Alcan, Alcoa e Vale do Rio Doce, não estão nada contentes com os rumos do setor elétrico e já revêem investimentos na área. Em reunião marcada para amanhã com a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, as empresas vão reivindicar soluções para problemas que estão afetando os projetos de geração de energia e que podem levar à paralisação de várias obras. A principal questão a ser discutida é o aumento do custo do transporte de eletricidade.

Segundo o presidente da Alcan, João Beltran Martins, os investimentos iniciados no setor se tornaram inviáveis por causa do aumento das taxas da transmissão e distribuição de energia. Em dois anos, o valor das tarifas mais que triplicou: “O que custava R$ 9 hoje se transformou em 33”, reclama. Para chegar à fábrica, a energia produzida pela empresa tem de passar pela linha de distribuição, o que encarece a eletricidade consumida.

O problema é que as empresas avaliam que esse aumento no custo torna inviável o uso dessa energia. As companhias começaram a investir no setor por causa do medo de escassez de eletricidade no País e pela possibilidade de alta nas tarifas de energia, o que prejudicaria a competitividade dos produtos.

Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), apenas no período de 1998 a 2002 a indústria eletrointensiva arrematou 37% do potencial hídrico ofertado pelo Governo, ou 4.043 megawatts (MW). Isso sem levar em conta as parcerias feitas pelas empresas com outras companhias do setor elétrico.

“A questão é que, quando participamos dos leilões para ganhar a concessão das usinas, havia um cenário macroeconômico e determinadas regras. A expectativa era de que essas regras se mantivessem, preservando os projetos, e isso não ocorreu”, diz Martins.

O presidente da Alcan afirma que, embora haja um compromisso para a construção das usinas, a empresa não vai se arriscar a dar andamento a uma obra que não é economicamente viável. “A solução é parar o projeto e ver o que vai ocorrer. Não vou abrir um buraco ainda maior, do qual não conseguirei sair, só porque ganhei a concessão de uma usina. Temos de rever o investimento”, diz.

A empresa já investiu US$ 100 milhões em usinas como Prazeres, Fumaça, Candonga e Furquim. Além disso, deverá injetar mais US$ 110 milhões no complexo hidrelétrico Caçu-Barra dos Coqueiros, com capacidade para 155 MW, e que ainda está essa fase de projeto. “Essa obra, contudo, se tornou uma interrogação”, diz Martins.

Na opinião do diretor da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia Elétrica (Abrace), Paulo Ludmer, cerca de 30% dos investimentos em autogeração para os próximos cinco anos estão ameaçados porque as empresas não estão dispostas a arcar com este aumento de custo. Além da Alcan, a Alcoa informou esta semana que vai rever os investimentos no setor. “Isso é muito grave, porque o Governo não tem capacidade para investir sozinho no setor. Se tivesse, ótimo”, alerta o presidente da Alcan, João Beltran Martins.