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Estado vai estimular uso do porto fluvial

Os testes realizados pelo Grupo Cosan para o transporte de açúcar a granel em contêineres na Hidrovia Tietê-Paraná a partir do Porto Fluvial de Araçatuba deverão ser o pontapé inicial para a utilização do terminal hidroviário local, parado há pelo menos seis anos.

Estimulada pela operação do grupo sucroalcooleiro, a Secretaria do Estado dos Transportes, por meio do DH (Departamento Hidroviário), está preparando um plano de fomento para a movimentação de cargas no porto local. “Chegou a hora de utilizar o porto de Araçatuba”, afirma o diretor do DH, Oswaldo Rossetto Júnior.

O Grupo Cosan, formado por 12 usinas de açúcar e álcool instaladas no estado de São Paulo, iniciou esta semana, no porto de Araçatuba, testes para o transporte de açúcar a granel em contêineres pela Tietê-Paraná. A logística, inédita no país, objetiva reduzir os custos do frete do produto fabricado na unidade de Valparaíso, a Univalem , que destina toda a sua produção de açúcar (160 mil toneladas) para a exportação.

O terminal hidroviário de Araçatuba chegou a movimentar 200 mil toneladas de soja entre os anos de 1996 e 1997, mas posteriormente, passou a ser usado apenas em operações esporádicas e experimentais, segundo o diretor do DH.

Depois de seis anos em desuso, o porto, segundo Rossetto, começa a despertar o interesse de empresas do setor de logística para o transporte de açúcar, álcool e cana-de-açúcar, como é o caso da Cosan. Ele também citou como exemplo a Eadi (Estação Aduaneira do Interior), que solicitou o uso do porto para o transporte de cargas variadas em contêineres. “O porto de Araçatuba começa a ganhar vida”, diz Rossetto.

O otimismo do diretor do DH deve-se não só à demanda pelo uso do terminal, mas também ao fato de que o usufruto do porto deverá ser transferido formalmente da Cesp (Companhia Energética de São Paulo) para o DH, o que deverá facilitar a implementação do plano de fomento que será desenvolvido pelo estado em parceria com a iniciativa privada.

O secretário de Transportes, Dario Rais Lopes, que acompanhou os testes realizados pelo Grupo Cosan na manhã de ontem, afirmou que, após a conclusão da operação da empresa, em março do ano que vem, será feita uma avaliação para identificar as carências do porto. A avaliação será feita em conjunto pela secretaria, por meio do DH, e iniciativa privada. “Depois de identificadas as carências, vamos estudar como resolvê-las para otimizar o uso do porto”, afirmou o secretário.

O estímulo à utilização do porto local, afirma Lopes, deve-se importância do uso da hidrovia em conjunto com os modais rodoviário e ferroviário para reduzir os custos das empresas com o transporte. “A própria Cosan está buscando a redução dos custos a realizar os testes na Tietê -Paraná”, afirmou.

O diretor do DH disse não ter números sobre a capacidade de movimentação de carga no porto de Araçatuba, mas acredita que o volume é considerável, devido à grande disponibilidade de área no entorno.

OBRAS – O estímulo à utilização do porto local ocorre no momento em que o estado tenta, por meio do governo federal, recursos para a realização de obras que eliminariam os gargalos da Tietê-Paraná. O projeto, orçado em R$ 73 milhões, já foi encaminhado ao Ministério dos Transportes.

As obras previstas no projeto são para o aprofundamento do canal, que permitirá ampliar o calado (profundidade que a embarcação afunda na água) de 2,70 metros para 2,80 metros. O aprofundamento é feito com a retirada de pedras do fundo do rio.

“A diferença de 10 centímetros no calado parece pequena, mas representa 250 toneladas de carga que um embarcação pode levar a mais em uma viagem”, diz o secretário.

No projeto encaminhado ao governo federal estão previstas também obras de ampliação de vãos de pontes e proteção de pilares para facilitar a passagem das embarcações.

Nos últimos cinco anos, a hidrovia recebeu um total de R$ 9 mihões de investimentos em obras realizadas pelas concessionárias que operam as hidrelétricas privatizadas pelo governo do estado.

Comboio embarca hoje na hidrovia com destino a Jaú

O comboio que levará 2,4 mil toneladas de açúcar produzidas na Univalem, de Valparaíso, até Jaú, pela Hidrovia Tietê-Paraná, deverá embarcar hoje no Terminal Hidroviário de Araçatuba. O produto será levado a granel em contêineres, numa operação inédita que objetiva a redução dos custos da usina com o transporte do açúcar, cuja produção de 160 mil toneladas anuais é voltada exclusivamente para os mercados russo, árabe e canadense.

Ao todo, o Grupo Cosan realizará três viagens, de dezembro a fevereiro, para avaliar o desempenho do transporte do açúcar a granel em contêineres. No período, serão transportadas 7,2 mil toneladas do produto na Tietê-Paraná. “Vamos verificar se existe economia no processo”, afirma o diretor de logística do grupo, Carlos Eduardo Bueno Magano, destacando que a Univalem é a unidade da Cosan que mais utiliza a rodovia, daí a realização dos testes visando a redução dos custos com o transporte.

Hoje, o açúcar produzido na Univalem segue por rodovia até Santos, percorrendo um trajeto de 700 quilômetros. Por ano, a empresa gasta R$ 10,4 milhões com frete, levando em conta que o custo médio por tonelada é de R$ 65 e que a empresa transporta 160 mil toneladas anuais. São realizadas, anualmente, 5.900 viagens de Valparaíso a Santos para o transporte do açúcar em caminhões basculantes, que possuem capacidade para 27 toneladas.

Com a utilização da hidrovia, o grupo levará o açúcar a granel produzido na Univalem até o porto da Cosan, em Jaú, de onde o produto segue, por rodovia, até o porto de Santos. Isso significa que a empresa deixará de percorrer 340 quilômetros por rodovia, de Valparaíso a Jaú.

O comboio que deverá sair de Araçatuba hoje é composto de seis barcaças, sendo cinco grandes, que levarão 14 contêineres cada, e uma pequena, que levará 10 contêineres.

A previsão é de que a carga chegue a Jaú na próxima segunda-feira, onde permanecerá no porto da unidade Diamante, que pertence ao Grupo Cosan, até 2 de janeiro. Neste dia, a carga seguirá por rodovia até o Porto de Santos, onde deverá chegar no dia 4 de janeiro, quando embarca no terminal portuário da Cosan rumo ao exterior. Toda a logística da operação foi desenvolvida pelo grupo em parceria com a Santaluz Transportes, de Santos.

A vantagem do contêiner, afirma o diretor de logística da Cosan, é que pode ser utilizado para transportar açúcar, cana e álcool.

Se tudo der certo, ele acredita que a partir da próxima safra a empresa poderá passar a utilizar a hidrovia para o transporte do açúcar até Jaú, de onde seguirá por rodovia ou ferrovia, dependendo dos custos, até Santos.