Mercado

Usinas devem exportar mais álcool

O alto preço do petróleo (subiu mais de 80% em um ano) deve estimular a produção e a exportação de álcool no Brasil. A estimativa é que, este ano, as vendas externas do produto cresçam mais de 150%, chegando a 2 bilhões de litros.

Consultores também avaliam que o País vai dobrar a produção de cana-de-açúcar em 10 anos, em virtude do mercado de combustível e do protocolo de Kyoto.

De acordo com levantamento da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), na safra passada, 52% da cana-de-açúcar foi destinada à produção de álcool e 48% para o açúcar. A expectativa para a safra atual, é de uma proporção de 54% para o álcool. Para a próxima safra, a definição deve ocorrer próximo ao início da moagem, em maio, no Centro-Sul.

Segundo Gil Barabach, consultor da Safra & Mercado, o aumento do preço do petróleo fez com que houvesse um maior interesse pelo álcool no mercado internacional. Prova disso, é o incremento da exportação brasileira que, até setembro, chegou a 1,8 bilhão de litros. Em todo o ano passado foram cerca de 800 milhões de litros.

O presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Eduardo Pereira de Carvalho, acredita que parte do crescimento das vendas externas é decorrente do aumento dos preços internacionais do petróleo e outra, da conquista de mercados para álcool industrial, como os Estados Unidos, a Europa e a Índia.

Opinião semelhante tem o presidente do Sindicato das Indústrias de Açúcar e Álcool de Mato Grosso do Sul (Sindálcool), José Pessoa de Queiroz Bisneto. “O aumento da exportação de álcool é reflexo do preço do petróleo”, diz. Ele acrescenta que no mercado interno a demanda por álcool também cresceu, em virtude do carro flex (bi-combustível) e do chamado “rabo de galo” (mistura de álcool na gasolina no limite superior ao permitido). “O aumento do preço da gasolina estimula o consumo de álcool”, avalia José Ricardo Severo, técnico da CNA.

“Certamente haverá um maior direcionamento para a produção de álcool”, afirma José Vicente Ferraz, analista da FNP Consultoria. Com isso, segundo ele, o mercado fica bom para os dois produtos, pois a tendência é de que suba também o preço internacional do açúcar. Para Ferraz, nos próximos anos haverá um estímulo à produção de cana-de-açúcar, com a área cultivada chegando a 7 milhões de hectares em um prazo de 10 anos.

Ângelo Bressan, diretor do Departamento de Açúcar e Álcool do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, diz que cada vez mais os países começam a se interessar por fontes alternativas de energia e, com isso, o Brasil sai ganhando ao exportar álcool.

Com a perspectiva de maior consumo mundial do produto, Bressan acredita que o País pode conquistar mercados como o Japão, a China e a Tailândia, que querem misturar o produto à gasolina.

“A alta do petróleo abre mercados como os Estados Unidos e o Canadá, que precisam do produto para misturar à gasolina”, afirma Luís Custódio Martins, presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Minas Gerais (Siamg).

Ele acrescenta que o consumo crescerá ainda mais quando os países que aderiram ao protocolo de Kyoto (que prevê a redução da emissão de dióxido de carbono e a busca por energias alternativas). “A matriz energética vem se alterando e o Brasil pode liderar esse processo”, avalia Renato Cunha, presidente do Sindicato da Indústria de Açúcar e do Álcool de Pernambuco.

Segundo Custódio, em Minas Gerais só não há maior produção de álcool porque o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) é de 25%, fazendo com que o produto de São Paulo chegue a Belo Horizonte mais barato que o do Triângulo Mineiro.

Para Cunha, o Nordeste poderá ampliar a produção de álcool se investir no cultivo de cana-de-açúcar em novas fronteiras agrícolas, como o Vale do Rio São Francisco.

Segundo ele, com a integração das bacias, em cinco anos o Nordeste pode aumentar em 15 milhões de toneladas a produção de cana-de-açúcar, além das cerca 10 milhões de toneladas que ainda podem ser acrescidas na Zona da Mata.

“Temos limitações topográficas”, diz Cunha. A região responde atualmente pela produção de 60 milhões de toneladas de cana-de-açúcar.

Não só os produtores de cana-de-açúcar e as usinas ganham com o aumento do petróleo. Uma das beneficiadas pelo incremento no setor é a SGS do Brasil, empresa de certificação.

“Acreditamos no aumento da produção em decorrência do protocolo de Kyoto e dos veículos bi-combustíveis”, diz Carlos Boiseaux, vice-presidente da SGS do Brasil. Segundo ele, praticamente todo o álcool exportado pelo País é certificado, pois os compradores querem ter garantia da qualidade e da quantidade do produto embarcado.

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