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Por sobrevivência, EUA entram definitivamente na guerra do álcool

“Os EUA precisam reduzir a dependência do petróleo”, disse o presidente George W. Bush nesta quarta-feira, 1 de fevereiro, no Congresso, durante seu discurso anual em que divulgou as metas do governo. De acordo com a fala de Bush, o objetivo do país na área energética é cortar as importações de petróleo do Oriente Médio em 75% até o ano de 2025.

O discurso de Bush não é pura retórica, mas parte do esforço concentrado do governo americano de encontrar alternativas ao seu calcanhar de Aquiles, a dependência de petróleo. A julgar pelas pesquisas e desenvolvimento de veículos híbridos que têm aparecido nos EUA – e em outras partes do mundo desenvolvido, esse calo também machuca o calcanhar de países de todo o planeta.

O desenvolvimento de carros movidos a energia alternativa virou febre nos Estados Unidos. A exemplo do Brasil, as indústrias automobilísticas comemoram cada lançamento de automóvel que pode ser abastecido com gasolina ou álcool e nos Estados Unidos os fabricantes fazem festa em torno de cada novo modelo híbrido – veículo que roda com gasolina e energia elétrica.

O recente salão de Detroit apresentou inúmeros protótipos de veículos movidos por diversas fontes alternativas de combustível: gasolina misturada com etanol, eletricidade e células de combustível extraídas do hidrogênio.

A Ford americana, por exemplo, está empenhada em desenvolver os motores a álcool nos Estados Unidos. O etanol reduz a dependência do petróleo e ajuda os agricultores, disse Bill Ford Jr, presidente do conselho da montadora, na apresentação das novidades da marca com novos combustíveis.

A Ford contratou o executivo brasileiro Marcos de Oliveira para a área de desenvolvimento de produto nos Estados Unidos. Marcos diz que a empresa trabalha agora no projeto tricombustível. No Brasil, o tricombustível envolve álcool, gasolina e gás, mas nos EUA envolve gasolina, álcool e a energia que virá da célula de hidrogênio.

A General Motors já experimentou a mistura do álcool nos EUA. O principal executivo da GM, Rick Wagoner, diz que a empresa tem 1,2 milhão de veículos que podem ser abastecidos com etanol rodando nos EUA e neste ano serão vendidas mais 400 mil unidades.

Exportações americanas podem reduzir preço do álcool no Brasil

São ótimas informações para o setor sucroalcooleiro. Quando a essas se junta a de que os Estados Unidos devem exportar 1 bilhão de litros de álcool este ano e que isto deve pressionar para baixo os preços internacionais do álcool, a notícia também agrada ao consumidor de álcool combustível brasileiro que poderá se beneficiar de preço menor nas bombas.

De acordo com projeções da F.O. Licht, o Brasil poderá perder espaço no exterior, reduzindo suas exportações de 2,4 bilhões de litros em 2004 para algo em torno de 1,5 bilhão de litros este ano, porque o aumento da produção de álcool nos EUA deve limitar a entrada do produto brasileiro no mercado americano, hoje seu maior cliente.

Países asiáticos como Japão e China, e a maior parte dos países que formam a União Européia devem ampliar suas importações de álcool combustível – em razão das misturas em proporções variadas que têm sido aprovadas por lei. Entretanto, os volumes serão realmente significativos apenas depois dos próximos três anos.

Há, portanto, em favor do Brasil, o fator tempo. Uma diferença de exportação para menos no Brasil, de em torno de 800 mil litros de álcool combustível, não afetaria significativamente o setor, sobretudo quando se sabe que em três anos ou pouco menos esse volume ou até um terço mais certamente será absorvido pelos novos países que começam a adicionar a mistura.

Sequer uma eventual redução no álcool afetará tanto o setor, uma vez que alguns milhares de reais a menos nos caixas das unidades acabarão por se revelar como investimento na recuperação total da imagem do setor. Ao sentir no bolso a queda do preço os consumidores brasileiros deverão passar a ver o setor com melhores e reais olhos e a entender também melhor as nuances e volatilidade do mercado.