Mercado

Malandros ou responsáveis: como seremos conhecidos?

Durante a abertura da recente Feicana em Araçatuba (SP), o ministro Roberto Rodrigues afirmou que os “malandros” acabam com a imagem do setor.

A fala do ministro alvoroçou certos segmentos do setor e motivou a platéia a ouvir a última palestra do evento, de Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da Unica, esperando uma defesa intransigente dos empresários.

Em vez disso, Eduardo de Carvalho reconheceu que realmente há alguns malandros no setor, como em toda atividade, mas focou a atenção de sua fala em argumentos fortes para anunciar um cenário futuro extremamente positivo para o setor.

Na visão da Unica, compartilhada pela Procana, o grande responsável por esse cenário é o álcool combustível.

Ao contrário do açúcar, cujo mercado apresenta um crescimento apenas vegetativo, o álcool combustível, por ser energia, ocupa posição de vanguarda mundial em termos de crescimento de demanda e de remuneração. Além de ser alternativa imediata ao explosivo petróleo dentro e fora do Brasil, o combustível renovável possui energia capaz de alavancar não apenas o próprio preço, mas também do açúcar, em razão da redução na oferta deste.

A equação é simples: quanto mais cresce o nível de vida da população, tanto mais aumenta o consumo de energia e combustíveis. Eduardo de Carvalho deixa nítido que haverá sempre um fantástico e crescente mercado mundial para o álcool. Seja para mistura na gasolina, seja para consumo puro ou em veículos flex-fuel ou ainda células de combustível.

Para atender a toda essa demanda, será necessário produzir muito mais álcool. Ao aumentar o mix de álcool, o volume de açúcar diminuirá naturalmente e, em decorrência, o preço desta commodity também tende a subir.

O cenário é mesmo de um futuro atraente e próspero e este futuro não pode jamais ser desperdiçado. Contudo, Carvalho adverte que todo esse futuro corre sério risco de transformar-se em anos de retrocesso. Tudo depende de como os produtores vão corresponder, hoje, à necessidade dos consumidores de álcool e ao chamado do País.

É agora em abril que o setor vai definir como ele será conhecido nas próximas décadas: como malandro oportunista ou fornecedor responsável.

Para garantir o abastecimento interno, as entidades do setor de cada estado assumiram o compromisso de antecipar a moagem e produzir mais 1,5 bilhão de litros de álcool. O estado de São Paulo entrou no compromisso com 400 milhões de litros. Contudo, até o fechamento desta edição, as usinas e destilarias paulistas tinham assumido apenas 250 milhões de litros, um sinal, para Carvalho, de que realmente há ainda alguns malandros no setor.

Não podemos repetir o mesmo erro de permitir o desabastecimento, como na década de 80. Hoje há evidências concretas de que o abastecimento naquela ocasião não foi provocado pelo setor. Contudo, os fatos não foram suficientes para evitar que os produtores fossem tachados de ´usineiros´, oportunistas e irresponsáveis”, ou seja, malandros.

Aquele episódio mergulhou o setor em uma década de retração e ostracismo, resultando em descrédito junto à opinião e poderes públicos.

No exato momento em que o setor começa a reconquistar a confiança dos consumidores, representada pelo crescimento nas vendas de carro a álcool no ano passado, o fantasma do desabastecimento reaparece, tentando colocar tudo a perder.

Esta é a hora da decisão. Agora em abril, o setor se reúne e o compromisso com o abastecimento precisa ser renovado e cumprido. Vale a pena antecipar a moagem mesmo com as inevitáveis perdas de produtividade e no teor de sacarose. Sejamos honestos. Mesmo nestas condições, ainda compensa produzir e vender álcool a R$ 1,00 o litro.

Por todas estas razões, temos a confiança de que este abril de 2003 será diferente. Os produtores vão cumprir com sua responsabilidade, garantindo não só o abastecimento em um mês, mas ao fazê-lo, estarão consolidando os alicerces que viabilizarão este futuro fantástico: competência e responsabilidade. Sem ´malandros´!

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