Mercado

Usina entra em recuperação judicial

O plano de recuperação da Usina Bom Jesus foi aprovado e a empresa terá 14 anos para quitar as dívidas, calculadas em R$ 69,93 milhões

A Usina Bom Jesus, situada na cidade do Cabo de Santo Agostinho, foi a primeira empresa do setor sucroalcooleiro pernambucano a obter aprovação para um plano de recuperação judicial. Com dívidas que chegam a um total de R$ 69,93 milhões e com 569 credores, a usina terá 14 anos para quitar seus débitos sem juros ou correções monetárias. A maior parte da dívida – R$ 31,8 milhões – é com os chamados credores quirografários, ou seja, aqueles que não têm garantias reais de pagamento, tais como hipotecas ou penhores diversos. Destacam-se também os 175 credores que esperam receber créditos trabalhistas.

O pedido foi feito no final de março deste ano e deferido no dia 4 de abril. Dessa data em diante, a usina esteve “blindada” por 180 dias, enquanto elaborava o seu plano de recuperação. Apresentado no final do mês passado, obteve aprovação da maioria dos credores (85,33%). “Não acredito que já tenha ocorrido um índice tão elevado como esse em Pernambuco”, acrescentou o advogado responsável pelo processo, Paulo Rangel, da Rangel Moreira Advocacia.

No mercado há 117 anos, a Bom Jesus começou a sofrer com dificuldades financeiras há pelo menos cinco anos. O baque provocado pela crise mundial no setor sucroalcooleiro só veio a agravar a situação da empresa, que vinha operando no limite para honrar seus débitos. A partir da escassez de crédito, bancos negaram pedidos de renegociação das dívidas da Bom Jesus, além dos problemas ocasionados pela retração no consumo e queda nos preços dos produtos. Agora, diante da recente alta no preço do açúcar nos mercados internacionais e da demanda cada vez maior por álcool no mercado interno, a expectativa tem sido bastante otimista quanto à capacidade de pagamento do passivo no tempo estipulado pelo plano de recuperação.

São várias as medidas que a empresa precisará implementar a partir de agora. A primeira é um enxugamento grande nas despesas correntes. Em paralelo, será promovida uma reavaliação da atuação de mercado da usina (trabalhar diretamente com o varejo em vez do atacado, o que proporciona preços até 10% maiores para os produtos), e a venda de ativos, no caso até 7,5 mil hectares em terras que englobam 15 propriedades rurais. Há ainda a previsão de emissão de debêntures no valor total de R$ 30 milhões. Isso faria com que os credores passassem a ter participação acionária na empresa.

“Uma auditoria vai obrigar os administradores a trabalharem de maneira mais profissional. Em resumo, o plano irá permitir que a usina trabalhe com uma folga que há anos não existia”, explicou Rangel. Para a safra 2009/2010, a expectativa é que a Usina Bom Jesus produza 611,5 mil sacas de açúcar cristal e outras 329,2 mil do produto tipo exportação – um total estimado de 940,8 mil sacas. Já a produção de álcool deverá ser de 17,8 mil metros cúbicos (m³), sendo 9,1 mil m³ do hidratado e 8,6 mil m³ do anidro.