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EUA querem recuperar influência na AL, diz Burns

Ricardo Balthazar

Os Estados Unidos estão interessados em recuperar sua influência na América Latina construindo relações mais profundas com países que se distanciaram dos americanos nos últimos anos, como o Brasil e a Argentina, disse ontem o número três do Departamento de Estado dos EUA, o subsecretário para assuntos políticos, Nicholas Burns.

Mas ao mesmo tempo ele deixou evidente a ausência de projetos que ofereçam uma estratégia para promover a integração da região, artigo que sumiu das prateleiras desde o abandono das negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

“Queremos construir uma relação mais sólida”, disse Burns, que chega hoje ao Brasil para uma visita de três dias em que terá contatos com o governo e a iniciativa privada. Ele seguirá depois para a Argentina. “A atmosfera na América Latina é muito boa hoje e nos dá uma oportunidade real de fazer isso.”

O avanço do antiamericanismo na região e a influência crescente exercida pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, se transformaram nos últimos tempos em grandes fontes de preocupação para os EUA, que vêem no radicalismo de Chávez e seus aliados uma ameaça à estabilidade da América Latina.

Burns considera Chávez uma voz isolada na região, apesar da simpatia que desperta em vários países da vizinhança, como Bolívia e Equador. “Nossos amigos estão no Brasil, na Argentina e na maioria dos países da região”, acrescentou. “Brasil e Argentina têm seus próprios interesses e não precisam seguir a estrela de ninguém.”

A iniciativa mais recente dos EUA para se reaproximar do Brasil e de seus vizinhos propõe a busca de uma estratégia comum para a promoção de combustíveis alternativos como o etanol, tema que está no topo da agenda de Burns. Mas a conversa está no começo e ele fez questão de reduzir as expectativas criadas em torno disso.

“Não estou indo negociar um acordo”, afirmou. “Há um vasto conjunto de iniciativas e acordos sendo discutidos no mais alto nível dos dois governos […] e queremos focar no que é realizável.” O principal assessor da secretária de Estado, Condoleezza Rice, para a área de energia, Gregory Manuel, acompanhará Burns ao Brasil.

Burns disse esperar que um acordo de cooperação nessa área seja anunciado em breve, na visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva planeja fazer neste semestre aos EUA. Mas disse que não existe nada definido por enquanto. “Não haverá anúncios dramáticos [durante a visita], só o trabalho diplomático maçante, que é importante para levar a iniciativa para frente”, afirmou.

Burns elogiou artigo publicado no início do ano pelo ex-subsecretário de Estado Robert Zoellick, hoje diretor do Goldman Sachs, que propôs a criação de um acordo comercial abrangente entre os EUA e os países que nos últimos anos assinaram acordos bilaterais com os americanos.

A iniciativa sugerida por Zoellick incluiria México, Chile, Peru, Colômbia e várias nações do Caribe, mas deixaria de fora o Brasil e seus sócios no Mercosul. “Precisamos de um engajamento mais abrangente como o que ele delineou”, disse Burns. “Mas nunca iremos menosprezar os arranjos comerciais que outros países têm, como o Mercosul.”

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