Se o presidente do Estados Unidos, George Bush, pensou que tinha a solução para os problemas da área de petróleo dos Estados Unidos quando propôs o aumento da produção de etanol, o fato é que ele não está obtendo nenhum apoio da parte da direção da Exxon, a maior empresa mundial do setor de combustíveis e nenhum respeito da parte do mercado de capitais, onde os produtores de etanol, até agora produzido à base de milho nos Estados Unidos, são os maiores prejudicados.
O discurso “O Estado da União”, proferido no último dia 23 de janeiro, transformou o etanol na viga mestra do plano do presidente de reduzir o consumo de gasolina dos Estados Unidos em 20% no período de 10 anos por meio da elevação, para um volume quase 5 vezes maior, do emprego obrigatório de combustível renovável definido no decreto federal — que passaria, assim, para 35 bilhões de galões ao ano (132,47 bilhões de litros) até 2017.
A Exxon Mobil Corp., a maior empresa mundial de combustíveis com ações negociadas em bolsa, considera o etanol irrelevante como solução para um vício (o vício norte-americano da gasolina, tal como definido pelo próprio presidente Bush) que obriga os Estados Unidos a importar dois terços do petróleo que consome. Não existe “proposta viável, comercialmente significativa” para a Exxon na área do etanol, disse o vice-presidente-sênior da empresa, Stuart McGill, aos investidores em conferência realizada no último dia 17 de janeiro, articulada pelo Goldman Sachs.
“O caráter da ciência, em seu estágio atual, e da tecnologia envolvida pressupõe formas significativas de subsídios e de decretos para que a iniciativa faça realmente sentido”, disse McGill em Nova York, desconsiderando um setor que conta com o fundador da Microsoft, Bill Gates, e David Rubenstein, co-fundador do fundo de participações Carlyle Group, entre seus maiores entusiastas.
Depois de quase dobrar de preço nos últimos cinco anos, o etanol está caindo num momento em que os preços do milho, a principal matéria-prima desse combustível nos EUA, alcança seu preço mais elevado de uma década. O petróleo bruto despencou 31% a partir de seu recorde de julho, reduzindo os preços da gasolina. O petróleo precisa estar acima de US$ 70 para o etanol ser lucrativo, segundo pesquisa desenvolvida pela Sanford C. Bernstein & Co.
“A corrida do ouro já acabou”, disse Michael Liebreich, principal executivo da New Energy Finance Ltd., com sede em Londres, que assessora investidores em energia não-poluente. “Muitas das novas usinas anunciadas jamais verão a luz do sol”. O etanol custava US$ 2,04 o galão nos Estados Unidos a 17 de janeiro, com base em dados de distribuidores atacadistas de Des Moines, no Estado de Iowa, e de outras cidades do Centro-Oeste norte-americano. Esse valor é 41% maior do que o da gasolina destituída de chumbo, antes dos impostos. E, o que é pior, o rendimento energético do etanol equivale a apenas 70% do gerado pelo petróleo.
O etanol é destilado a partir do processamento de produtos agrícolas e empregado como substituto ou aditivo à gasolina. Nos Estados Unidos, ele é produzido a partir do milho, enquanto no Brasil, o maior produtor e consumidor desse combustível, é feito de cana-de-açúcar. Mais de metade dos automóveis do Brasil têm capacidade para promover a combustão do etanol.
O governo dos Estados Unidos dá às refinarias e aos atacadistas de etanol incentivo fiscal de 51% por galão de etanol que é misturado à gasolina. Para restringir a oferta e elevar os preços, os EUA impõem a tarifa de US$ 0,54 por galão ao produto importado, para barrar remessas oriundas de países de fora do Caribe e da América Central.
(Gazeta Mercantil/Caderno C – Pág. 2)(Marianne Stigset e Bruce Blythe/ Bloomberg News)